Uma das maiores especialistas mundiais de Inteligência Artificial esteve na Universidade Católica no Porto

 

Manuela Veloso, especialista mundial na área da Inteligência Artificial, esteve na Católica no Porto para a Conferência Premium “Fatores para o Sucesso da Interação com a Inteligência Artificial”, organizada no âmbito das celebrações dos primeiros 40 anos da Universidade Católica Portuguesa, no Porto.

Isabel Braga da Cruz, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, deu as boas-vindas e agradeceu a presença da investigadora da Universidade Carnegie Mellon e atual líder do Centro de Investigação em Inteligência Artificial da J.P. Morgan. No seu discurso de abertura, Isabel Braga da Cruz realçou a “presença ativa e interventiva na região e na sociedade” da Universidade e reforçou que “ao longo deste ano vão ser muitas as iniciativas com o objetivo de alicerçar e promover a cultura do encontro”.

Com um tom suave e uma enorme simpatia, Manuela Veloso começou por expor a sua parte mais humana, enquanto mulher, mãe e avó que adora a família e a proximidade a Lisboa. Otimista na forma de ver o Mundo, Manuela Veloso há mais de 30 anos que se dedica às áreas da robótica e inteligência artificial, sendo muito conhecida pelos robots que desempenham tarefas ou jogam futebol. Tendo como cenário os corredores da Universidade Carnegie Mellon, Manuela Veloso mostrou vídeos do CoBot, um robot que percorre a Universidade para desempenhar pequenas tarefas. “O robot sozinho não consegue chamar um elevador, tirar um café ou abrir uma porta,” refere Manuela Veloso mostrando que nestes casos o robot pede ajuda falando para as pessoas, ou mandando email ao grupo de investigação se não recebe ajuda.

Para Manuela Veloso, a Inteligência Artificial ainda tem um longo caminho a percorrer e os humanos têm que se centrar naquilo em que são diferenciadores. Neste sentido, a investigadora salientou a importância das questões éticas, bem como realçou que é muito relevante que nos preocupemos em ter valores em tudo o que fazemos na vida. Referiu também que deve existir regulação na área da Inteligência Artificial, mas que esta não deve limitar a capacidade de inovação dos investigadores.

Em relação ao seu papel na J.P. Morgan, Manuela Veloso referiu que ao contrário de todas as empresas que nasceram na era digital - dando como exemplos a Google, Apple e o Facebook – há empresas que fazem parte do esqueleto da sociedade e que precisam do apoio da Inteligência Artificial para as auxiliarem a lidar com a enorme quantidade de dados que são produzidos: bancos, cidades, hospitais, entre outros. “O meu papel na J.P. Morgan é o de incorporar a Inteligência Artificial em beneficio dos seus clientes e da sociedade”, refere Manuela Veloso.

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“Os algoritmos foram pensados para aprender de dados objetivos, como classificar objetos numa imagem. Como também usamos agora dados do comportamento humano, uma grande questão em termos de investigação atualmente é: como é que se juntam aos dados, também princípios?”
Manuela Veloso, diretora do Centro de Investigação de Inteligência Artificial da J.P. Morgan Chase.
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Na sua intervenção, Manuela Veloso referiu ainda que “há uma grande diferença entre os humanos, criaturas de Deus, e a ciência que não caiu do céu, mas que foi criada por nós,” acrescentando “as descobertas que fazemos têm de ser para bom uso da sociedade e da humanidade”. Manuela Veloso acredita que “podemos ser ajudados pela IA e podemos continuar a ser humanos”. No final reiterou: “O desafio é as pessoas serem mais humanas mesmo sem inteligência artificial.”

“A saúde é das áreas que mais precisa do apoio da IA para que possa ser acessível a todos”, referiu. No final da sua intervenção, a investigadora lançou uma questão aos presentes: “se estivessem doentes com uma doença rara e precisassem de consultar um médico qual escolheriam: um que só usasse a sua experiência, ou um médico que, para além da sua experiência, também tivesse um assistente com inteligência artificial capaz de processar os imensos dados existentes de modo a poder encontrar casos com características semelhantes?”

Quando questionada sobre os potenciais problemas do futuro no uso da inteligência artificial, Manuela Veloso apelou para a responsabilidade de todos, ao lembrar que “nós não somos expectadores do futuro, mas somos construtores do futuro.”

Em forma de conclusão, Isabel Braga da Cruz salientou três ideais-chave “a Inteligência Artificial é uma ciência de integração de diferentes componentes, em particular machine-learning; não é ilimitada, pelo que existe uma inteligência simbiótica de colaboração com humanos; e não pode ser uma caixa negra, dado que deverá incluir transparência na decisão e nos valores éticos”.

 

Fevereiro 2019

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15-02-2019