Arménio Rego: "Como se identificam as causas do sucesso?"

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Arménio Rego: "Como se identificam as causas do sucesso?"
Quarta-feira, 25 de Agosto de 2021 in Líder Online

Parece razoável supor que a melhor maneira de compreender a génese do sucesso é estudar as caraterísticas de quem o alcança. Essa é uma razão pela qual tantos analistas se preocupam em identificar os traços de titãs como Jeff Bezos, Elon Musk, ou Richard Branson – apenas para citar os que recentemente viajaram ao espaço. Se esses epítomes do sucesso são dotados de algumas caraterísticas, então serão elas que causam o sucesso. Certo? Não necessariamente! Essa análise apenas nos dá conta dos atributos dessas pessoas – mas não nos garante que esses atributos causam o sucesso. Uma forma mais correta de identificar as causas do sucesso seria comparar pessoas bem-sucedidas com outras que não o são. Se forem encontradas diferenças, é possível que o sucesso resulte das idiossincrasias de quem o obtém. Mas, enquanto a comparação não for feita, a nossa tese não passa de especulação, ainda que apelativa.

Se o argumento lhe parece idiota, pense no seguinte: há muitos líderes malsucedidos que são tão ou mais determinados e perseverantes do que outros bem-sucedidos. Portanto, resumir a explicação do sucesso à presença dessa garra é, no mínimo, precipitado. É, muitas vezes, wishful thinking – pensamento fantasioso. As causas do sucesso e do fracasso são múltiplas. As oportunidades ou a falta delas, o momento, assim como a sorte e o azar também jogam um papel crucial. Sabemos que as estrelas que brilharam nos jogos olímpicos de Tóquio são dotadas de grande estamina, enorme capacidade de trabalho, e abundante espírito de sacrifício. Mas essas qualidades também são apanágio de muitos outros atletas que não subiram ao pódio.

Não estou a subestimar a importância da “garra”. Pelo contrário: esse atributo é crucial e pode, até, ser mais importante do que o talento. Patrícia Mamona, antes de partir para Tóquio, foi convidada a explicar porque uma vez dissera “Sei que não tenho um talento especial” (revista E, jornal Expresso, 23 de julho). Eis a resposta: “Mas trabalho. As coisas demoraram a surgir, mas surgiram porque trabalhei, o que significa que qualquer pessoa tem capacidade. E não é só no atletismo, é em todas as áreas”. Portanto, a perseverança e o espírito de sacrifício são essenciais – mas insuficientes. Se queremos explicar o sucesso, temos que buscar outros fatores. A má notícia é que … não há fórmulas únicas. Se as houvesse, já teriam sido escritas. E quem as seguisse seria bem-sucedido. Mas há aqui um paradoxo insolúvel. Nas arenas competitivas, sejam as desportivas ou as empresariais, o pódio tem uma quantidade limitada de lugares. Portanto, apenas alguns dos que bebem a (putativa) fórmula do sucesso obtêm sucesso!

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