Arménio Rego: "A curiosidade como recurso de sabedoria"

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Arménio Rego: "A curiosidade como recurso de sabedoria"
Quarta-feira, 12 de Maio de 2021 in Líder Online

Jacques Delors, Presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995, foi um dos grandes arquitetos da moderna União Europeia. Tinha, além de defeitos, grandes qualidades. Uma das mais relevantes, afirmou recentemente João de Deus Pinheiro, que foi seu Comissário, era o método de tomada de decisão. Quando se deparava com novo assunto e sentia necessidade de sensibilizar os líderes europeus, Delors adotava o método virtuoso que Aristóteles teria classificado como phronesis, ou sabedoria prática. Reunia intelectuais e peritos, durante um fim de semana, algures na Europa, para todos debaterem livremente o tema. Pascal Lamy, seu chefe de gabinete, tomava notas e, no final do processo, fazia uma síntese das principais ideias. Com base nessa resenha, Delors levava o assunto ao Comité de Comissários. Durante uma manhã ou tarde, os Comissários "partiam pedra". Só então Delors preparava um documento que apresentava individualmente a cada chefe de Estado ou de Governo, explicando os objetivos e as ideias. Tudo era "muito pensado, muito mastigado e apresentado com grande humildade", tendo em atenção as múltiplas sensibilidades, as dos grandes e as dos pequenos países. No momento preciso, Delors "apagava-se" para que os grandes nomes da política europeia pudessem brilhar. Delors era, pois, movido pelo desejo de aprender e o amor pelo conhecimento. Era tão autoconfiante quanto humilde e intelectualmente curioso. Investigação focada nos Presidentes dos EUA também sugere que a grandeza presidencial assenta, em medida significativa, na curiosidade intelectual e na abertura de espírito do detentor do cargo.

A curiosidade intelectual raramente surge nas discussões sobre os atributos de liderança mais relevantes. Mas a investigação sugere que ser curioso é crucial para ser melhor líder, não apenas no mundo político, mas também no empresarial. Segundo alguns académicos, Satya Nadella terá contribuído para "ressuscitar" a Microsoft através da instituição de valores nucleares como a curiosidade, a humildade e a aprendizagem constante. Mike Myatt escreveu na revista Forbes que uma das marcas distintivas dos melhores líderes é a sua "insaciável curiosidade". Michael Schrage, investigador do MIT, argumentou que muitos executivos, em vez de suspenderem as suas certezas e as testarem, assumem que a intuição lhes permite saber o que é mais apropriado para os seus clientes. Do seu ponto de vista, esse é "um grande erro de gestão" e os gestores devem ser curiosos e humildes.

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