Manuel Fontaine Campos: "Ensino combinado: o futuro do ensino universitário?"

Direito
Manuel Fontaine Campos: "Ensino combinado: o futuro do ensino universitário?"
Segunda-feira, 9 de Agosto de 2021 in Público Online

A pandemia é um daqueles momentos históricos, que traçará um antes e um depois nas interações humanas. Uma das áreas em que tal sucederá é a do ensino, designadamente nas universidades. Há cerca de um ano, refletia sobre as lições que poderíamos retirar do ensino online que, de forma abrupta, tivemos de adotar na sequência da erupção pandémica. Agora, quando começamos a ver a luz ao fundo do túnel, faz sentido pensar no futuro do ensino pós-pandemia.

Reiteramos as conclusões a que tínhamos chegado: pelo menos no Direito, o ensino online funciona razoavelmente - no fim do ano, os estudantes adquiriram os conhecimentos e as competências pretendidas, ao mesmo nível de estudantes de anos anteriores; o ensino presencial continua, não obstante, a ser mais vantajoso nos momentos de interação personalizada entre estudantes e docentes e entre estudantes; e a avaliação escrita (em especial, o "exame final") tem de ser presencial, para garantir a fidedignidade dos resultados, tendo também em conta as objeções da Comissão Nacional de Protecção de Dados à utilização de ferramentas de vigilância online.

Tendo isto em conta, e dito de forma simples, parece-nos que, depois de se ter experimentado o potencial do ensino online, já não é possível voltar a enfiar o génio na lâmpada. Quem pensa que o período que vivemos é um mero interregno e que, debelada a pandemia, voltaremos ao ensino de antigamente, exclusivamente presencial, pensa que pode parar o vento com as mãos.

As vantagens do ensino online

Por "ensino online" englobámos todas as práticas de ensino à distância potenciadas pelas ferramentas digitais, quer estejam em causa aulas (síncronas ou assíncronas, com ou sem convidados externos, com ou sem uso das "salas" simultâneas, com maior ou menor interação oral ou através do chat), o visionamento/audição de pequenos vídeos, podcasts ou audioslides, o uso de todas as virtualidades das plataformas informáticas LMS (Learning Management Systems) para acesso aos materiais de estudo, entrega de trabalhos, participação em fóruns de discussão, comunicação, trabalho em equipa ou realização de avaliações, entre outros.

Entre as vantagens do ensino online contam-se, desde logo, a desnecessidade de deslocações - com a inerente poupança de tempo, cansaço e dinheiro, e menos poluição produzida, por parte dos que antes se deslocavam. Este efeito, multiplicado por dezenas de milhares de estudantes do ensino superior - e, se combinado com a consolidação do teletrabalho, ainda que parcial, por centenas de milhares de trabalhadores - promete ganhos de bem-estar, financeiros e ambientais substanciais.

Outra vantagem é a de permitir o acesso à educação daqueles que não tinham hipótese de se deslocar, por se encontrarem a distâncias excessivas do local do curso. O incremento massivo do público-alvo é, aliás, uma das grandes vantagens do ensino online para as universidades. No limite, se lecionado em português, o público potencial de cada curso estende-se aos países de língua oficial portuguesa; se lecionado em inglês, à população mundial.

Para as universidades, perspetiva-se ainda a possibilidade de desenvolver a sua oferta sem a necessidade de investimento em espaços adicionais. Em sentido contrário, a opção pelo ensino online implicará necessariamente um investimento maior em infraestruturas tecnológicas, plataformas digitais e formação de docentes e discentes.

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