Aula Aberta · Marinho de Pina
27.05.2022 18:30
Escola das Artes | Auditório Ilídio Pinho | Edifício de Restauro / Restoration Building | Campus Foz
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27.05.2022 18:30 Aula Aberta · Marinho de Pina Link: https:///pt/central-eventos/aula-aberta-marinho-pina
Como Chegar / How to Arrive Universidade Católica Portuguesa - Porto | Campus Foz | Auditório Ilídio Pinho
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Marinho de Pina · Descolonizar a Descolonização
27 MAI · 18H30
Conferência aberta ao público
FabLab - Edifício do Restauro
A sétima sessão do ciclo 2022 de Aulas Abertas decorre no dia 27 de maio, às 18h30, no FabLab (Edifício do Restauro). O convidado é Marinho de Pina.
O tema da sessão será Descolonizar a Descolonização.
O programa das Aulas Abertas 2022 da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa no Porto integra artistas, investigadores e ativistas de áreas e contextos distintos. Os encontros têm como objetivo contribuir para os debates contemporâneos que circundam as práticas artísticas e o pensamento crítico.
As Aulas Abertas são de entrada gratuita e realizar-se-ão no Auditório Ilídio Pinho, entre fevereiro e maio de 2022, na Escola das Artes, Universidade Católica Portuguesa.
"Hoje as pessoas são convidadas ou forçadas a serem completamente despidas de preconceitos, enquanto policiadas por pessoas também preconceituosas mas prontas a atirar a primeira pedra. Há uma problematização do "ego" a par de um apagamento da ideia do "outro", porque o que deve reinar é o "nós", uma aceitação inquestionável de toda a gente, ao mesmo tempo que se fazem balizamentos entre grupos de entendimentos diferentes. Parece que tudo é contraditório. Exige-se cancelamento tanto do presente como do passado, exige-se até o cancelamento da ciência, advogando que a academia aceite também outros conhecimentos, alguns dos quais muitas vezes roçam a místicos.
Que tem tudo isso a ver com a descolonização? Eis a questão.
De teorias vivas e objetivas, tanto a descolonização como a decolonização hoje muitas vezes parecem algumas vezes apenas chavões usados sem muita reflexão, relacionado a um conceito de virtuosismo muito presente na sociedade hodierna: quem não é "descolonizante" só pode ser má pessoa. A questão da descolonização aparece fundamentalmente no campo académico e artístico, com viés ativísticos. Não raramente são europeus (não confundir com brancos) a desenhar formas e padrões para descolonizações que depois são atirados para os países que lidam ainda com a colonização.
Não conhecendo a realidade de outros países tanto quanto conheço a de Portugal e a da Guiné-Bissau, principalmente no campo da colonização, analisando as duas consigo dizer que a ideia da descolonização é bastante estranha em ambos os países. Enquanto Portugal se apega às suas grandes "conquistas" do passado e com um saudosismo terrível, a Guiné-Bissau se apega a Portugal, como se de um andarilho se tratasse, dizendo muitas vezes ter sido abandonada e mal-descolonizada. Na academia portuguesa se discute a descolonização e como levá-la aos povos ex-colonizados de uma forma bastante paternalista, e na academia guineense o que se discute é a forma de trabalhar as academias para ficar à altura das academias europeias, que continuam a ser o padrão, e a necessidade da ajuda do ex-colonizador. Uma das questões discutidas nas academias e círculos artísticos europeus, principalmente, é a “restituição” e “reparação”, na academia guineense não se fala, quanto a “reparação”, sim, estamos tão desesperado e frustrados com os quase cinquenta anos da existência, que muitas pessoas falam abertamente em que seria deixar melhor os tugas continuarem a gerir o país e anseiam por uma colonização formal, uma vez que as ONG europeias já aí estão a fazer a manutenção da pobreza e a permitir que a colonização não perca o espaço.
Não há respostas em tudo o que referi até agora, porque a questão, pelo menos a partir do que vejo na Guiné-Bissau, é bastante mais complicada. Por isso nesta aula, vamos discutir possibilidades, sem paternalismos e tentar considerar factos históricos e presentes que pesam nos discursos descolonizantes ou que deviam pesar nos discursos descolonizantes mas não são considerados. Por exemplo, na Guiné-Bissau, a escola pública e a saúde pública se encontram em crise basicamente desde a independência, mas essas situações geralmente não são tomadas em conta quando se fala da descolonização, quando isso demonstra que desde sempre houve um grupo de pessoas a colonizar o país? Posto isto, até onde vão os limites da descolonização e da colonização? Ou temos que resumir tudo em: “a minha colonização é melhor que a tua” e seguir em frente?
Como podemos descolonizar a descolonização, quando os donos do poder são quem controla o discurso?" Marinho de Pinha
BIO
Marinho de Pina é mestre em Arquitetura pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT) e doutorando em Arquitetura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos no ISCTE-IUL. Atua como assistente de investigação no DIN MIA'CET – ISCTE-IUL, Centro de Estudos Sobre a Mudança Socioeconómica e o Território. Assina uma série de projetos arquitetônicos como a modelação tridimensional e renderização de projeto artístico “Namibia Today” de Kasper König & Laura Horelli para o Pavilhão Alvar Aalto em Veneza (2018) e o projeto da Casa Pina em Bissau, Guiné-Bissau (2017). Venceu o Poetry Slam Lisboa (2017), o Concurso de Ensaios sobre Arquitetura do Departamento da Arquitetura da Universidade Lusófona (2009), entre outros. Assina dois curtas-metragens, "A Minha Escola" e "Kankuran", ambos de 2016.