Estudo desenvolvido pelo CEDH revela que 9 em cada 10 jovens já exerceram direito de voto

A suspeita de que os jovens são naturalmente inativos a nível político não é confirmada pelos dados do estudo “Participação política juvenil em Portugal: Resultados de um inquérito online e de grupos de discussão com jovens”, desenvolvido pelo Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH), da Faculdade de Educação e Psicologia, da Universidade Católica Portuguesa no Porto, a pedido do Conselho Nacional de Juventude (CNJ).

O inquérito mostra que 89,6% dos jovens já votou em algum momento da sua vida. No universo dos jovens que votam, a ida às urnas foi realizada em eleições legislativas (81,8%), nas autárquicas (79,1%), nas presidenciais (76,6%) e, por fim, nas eleições europeias (45,6%).

Coordenado pela investigadora do CEDH Raquel Matos, o estudo foi desenvolvido por uma equipa que integrou também os investigadores Mónica Soares, Joana Torres e Rui Leandro Maia. O estudo foi realizado no âmbito do “Projeto Politicamente Desperto - mais informação, melhor participação” financiado e englobado no Programa Cidadãos Ativ@s, gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com a Fundação Bissaya Barreto.

 

“A esmagadora maioria dos jovens estão interessados em política.”

Este inquérito mostra que a esmagadora maioria dos jovens estão interessados em política, contrariando a perceção que existe na sociedade. Nós, jovens, estamos a participar ativamente nos processos políticos e eleitorais. Não queremos ficar à margem. Uma das recomendações que emana deste estudo é que devemos ter uma educação política formal no percurso educativo. Precisamos que nos seja dado acesso ao sistema e que partilhem as oportunidades connosco, afirma Rui Oliveira, Presidente do CNJ.

O inquérito revela ainda que apenas 2,4% dos inquiridos são sindicalizados. Entre os mais sindicalizados estão os jovens entre os 26 e os 30 anos e os mais pró-independentes financeiramente. Para além do sindicalismo, os jovens participam em partidos políticos (17,5%), em campanhas eleitorais (22,7%) e no associativismo (34,7%). Os resultados espelham, também, o retrato da difícil emancipação económica que os jovens vivenciam em Portugal: cerca de 67,3% menciona trabalhar de forma precária.

 

Principais recomendações do estudo

O estudo permitiu traçar o retrato atual sobre várias dimensões desta temática, bem como tecer recomendações que fomentem a participação política dos jovens.
Investir em medidas e ferramentas de democracia participativa, garantindo o feedback e efetiva operacionalização dos resultados das consultas; reconfigurar conjuntamente com os/as jovens os canais de participação política, rentabilizando as redes e o potencial mediador do IPDJ e do CNJ; criar uma disciplina de administração pública no ensino secundário; criar programas formativos sobre os poderes e as instituições democráticas; apostar em programas de integração à vida partidária e divulgar formas de adesão aos partidos políticos; promover atividades partidárias abertas à comunidade, sobre temas de interesse atual; organizar atividades de sensibilização para o tema da desinformação e para uma postura crítica na utilização da media social para fins políticos; e preparar precocemente os/as jovens a partir da política local, através de iniciativas como a participação em assembleias municipais.

São estas as recomendações que pretendem dar resposta aos problemas de emancipação que os jovens enfrentam e melhorar a vida democrática em Portugal.

 

Contacto com a política através das redes sociais

Tanto o estudo quantitativo como o qualitativo mostram que a falta de conhecimentos é a dimensão que mais veda a participação política dos jovens. 84,1% dos jovens dizem que, quando não participam formalmente, é por falta de conhecimentos. Para colmatar essa lacuna, 65,4% dos jovens consideram relevante apostar em iniciativas comunitárias e populares. Os jovens valorizam também mecanismos formais de educação política (por exemplo, a utilização da disciplina educação para a cidadania ou o uso de parlamento lúdico para crianças).

A perceção de que as redes sociais já se tornaram o meio de comunicação mais utilizado pelos jovens para ter contacto com a política, em detrimento da televisão, é confirmada por este estudo, ainda que esta mudança pareça não gerar diferenças significativas na participação política.

Os resultados do estudo foram obtidos através de um inquérito online junto de 931 jovens dos 18 aos 30 anos de diferentes quadrantes sociais, económicos e geográficos do país, e de 13 grupos de discussão com jovens dos 18 aos 30 anos em oito distritos de Portugal continental e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. As conclusões do estudo englobam, assim, uma diversidade de vivências no que diz respeito à emancipação e participação política dos jovens dos 18 aos 30 anos em Portugal.

Para mais informações sobre o projeto, visite: Politicamente Desperto | CNJ

pt
31-01-2023