João Pinto: “A Universidade tem um papel fundamental para ajudar outras entidades a fazer um caminho de sustentabilidade.”

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João Pinto é natural de Amarante e é vice-presidente da Universidade Católica Portuguesa no Porto e docente da Católica Porto Business School. Especialmente dedicado à área das finanças, divide a sua vida profissional entre a docência, a investigação e a gestão. Nesta entrevista, falamos de algumas memórias de infância, dos desafios profissionais, do INSURE.Hub e do caminho de sustentabilidade que a Católica tem vindo a trilhar. Esperança nas novas gerações? “Tenho muita!”.

 

A sua carreira profissional desdobra-se em três dimensões diferentes: a de professor, a de investigador e a de gestor.    

Sou docente e essa é a atividade que espero ser uma constante em todo o meu percurso. Adoro dar aulas! Depois tenho a parte da investigação, que é muito interessante, porque nos permite aceder a e produzir conhecimento. A investigação alimenta também aquilo que é a atividade do docente. Para além disto, sempre desenvolvi atividades de gestão que enriquecem muito o meu papel enquanto professor e investigador. A experiência que trazemos da prática empresarial é essencial e diferenciadora. Por exemplo, eu leciono uma disciplina de avaliação de empresas e projetos em que o facto de já ter avaliado na prática várias empresas e projetos de investimento me permite ter outra capacidade de transmitir conhecimento aos meus alunos. Falar de financiamento de empresas quando já estivemos em empresas a fechar contratos de financiamento, sejam de pequena dimensão, sejam mais estruturados, com bancos permite-nos proporcionar aos nossos estudantes uma experiência de aprendizagem muito mais enriquecedora. Estas diferentes dimensões da minha prática profissional alimentam-se umas às outras.

 

Dedica-se de forma especial à área das finanças. O que explica o seu fascínio por esta área?

Dentro das Finanças destaco duas áreas que me entusiasmam muito. Por um lado, a área da gestão financeira, que tem a ver com as decisões efetivas e reais do dia-a-dia das empresas, ou seja, tem total aplicabilidade na gestão de qualquer organização. A outra área é a dos mercados financeiros, área que investigo e leciono, e que tem a ver com as operações de financiamento mais estruturadas desenvolvidas por bancos de investimento. Se a primeira área me fascina pelo impacto real e prático no nosso quotidiano, a segunda fascina-me pela sua complexidade e dificuldade.
 

Quais são os maiores desafios de se ser professor?

O maior desafio é conseguirmos cativar a plateia que está à nossa frente. Cativar os alunos, envolvê-los nas matérias, mostrar-lhes que o seu contributo é importante. Ser professor faz-me estar constantemente à procura de novas formas de chamar a atenção dos meus alunos e de os trazer à participação e principalmente conseguir simplificar aquilo que, à partida, é difícil e complexo. Outro desafio importante é ter a capacidade de adaptação, sabermos adaptar o nosso discurso a diferentes públicos é fundamental.

 

“É central para a nós a preocupação com o outro, o respeito, o diálogo com a sociedade, a responsabilidade social, a sustentabilidade.”

 

O que é que aprende mais com os seus alunos?

Os Professores não sabem tudo, nem pouco mais ou menos. Até diria que muitas vezes o nosso papel é introduzir os temas, suscitando curiosidade e vontade aos alunos para saberem mais. Essa é a nossa função. Abrir caminho aos alunos para que eles se desenvolvam e cresçam. Sou muitas vezes confrontado com temas que não conheço e, por isso, sou muito desafiado pelos meus estudantes. Há uns tempos estava numa sessão do MBA e há um participante que me fez uma pergunta sobre um tema que eu não sabia o suficiente para responder. Podia ter dado a volta à questão, contudo estaria a ser desonesto. Quando não se sabe, vai-se à procura, estuda-se e depois pode-se voltar a discutir o assunto. Isto acontece com frequência e não há problema nisso. É um desafio constante sermos confrontados com novidades e dúvidas para as quais ainda não temos resposta.

 

“Queremos ser um agente ativo na educação para a sustentabilidade e alterações climáticas.”

 

O que é que o move enquanto docente e vice-presidente da Católica no Porto?

Enquanto vice-presidente há um grande sentido de missão. É assim que encaro esta função, na certeza de que o meu objetivo é contribuir para uma melhor organização e para uma gestão cada vez mais profissional. Na Católica temos colaboradores com muita qualidade técnica e é preciso potenciar isso. Também sou professor e investigador movido pela missão de criar e transmitir conhecimento de qualidade para que os meus estudantes possam fazer a diferença e possam tomar decisões que impactem positivamente a sociedade e o mundo.

 

O que é que distingue a Universidade Católica?

A Universidade Católica tem uma série de princípios que são diferentes de outras universidades. Estes princípios ajudam-nos claramente a captar estudantes que trazem uma expectativa de uma formação integral. Na Católica formamos os estudantes de um ponto de vista alargado: profissional e pessoalmente. É nossa preocupação formar os nossos estudantes não apenas de um ponto de vista técnico, mas com um cuidado especial para uma formação para a atitude. É central para nós a preocupação com o outro, o respeito, a entrega aos outros, o diálogo com a sociedade, a responsabilidade social, o voluntariado, a preocupação com o ambiente e a sustentabilidade. A nossa missão vai muito para além dos planos curriculares e daquilo que os nossos alunos podem fazer profissionalmente com eles. Queremos mais dos nossos estudantes e é, por isso, que promovemos uma série de iniciativas diferenciadores e inovadoras.

 

“É fundamental empenharmos as nossas capacidades para ajudar outras entidades a conseguirem fazer um caminho de sustentabilidade.”

 

O INSUREHub é um exemplo dessas iniciativas que, neste caso, reforça o compromisso da Católica com a sustentabilidade e com a responsabilidade social. Em que é que consiste?

É uma iniciativa que junta a Católica Porto Business School, a Escola Superior de Biotecnologia e a Planetiers News Generation. É um projeto totalmente inovador que nos permite trabalhar a sustentabilidade, a inovação e a regeneração e que junta vários parceiros numa lógica de network internacional, permitindo oferecer serviços de consultoria e de promoção e transferência de conhecimento. O objetivo é criar um ecossistema internacional de conhecimento que promova soluções de negócio de âmbito circular, sustentável e regenerativo.

 

Qual o balanço que fazem neste quase um ano de atividade?

Atualmente, temos mais de 40 entidades associadas. Estamos a fazer vários estudos em parceria com entidades internacionais desta área e estamos, também, já a trabalhar com alguns dos nossos parceiros e a desenvolver trabalhos de consultoria. Lançámos uma pós-graduação na área da sustentabilidade e regeneração, um pilar importante para o INSURE. Trata-se de uma formação completamente nova e inovadora. Não nos limitámos a pegar num curso de Gestão e a transformá-lo em algo de sustentabilidade, colocando a palavra à frente dos módulos já existentes. Foi construída de raiz e tem muitos inputs da área da biotecnologia. Não deixa de ter os tradicionais temas da gestão como a liderança e a estratégia, mas foca-se muito nos temas da inovação e do empreendedorismo e, a partir daí, nos modelos de negócios sustentáveis e regenerativos. Para além disto, também estamos a trabalhar com a Faculdade de Educação e Psicologia no sentido de se construírem elementos capazes de promover a literacia em sustentabilidade. Queremos ser um agente ativo na educação para a sustentabilidade e alterações climáticas. As frentes de ação do INSURE.Hub são muitas e ainda estamos no fim do primeiro ano da sua existência, mas o balanço é claramente muito positivo.

 

“É cada vez mais comum vermos nos nossos estudantes alguns hábitos como o uso de transportes públicos, a partilha de boleias, o cuidado com a alimentação e com o desperdício.”

 

De que forma é que a Católica pode reforçar ainda mais a sua ação no campo da sustentabilidade?

Nós temos um lastro significativo de atividades nestas áreas. É nossa preocupação incorporarmos dentro da nossa oferta formativa esses temas, mas temos, também, a Católica para a Sustentabilidade (CASUS) e a Unidade de Desenvolvimento Integral da Pessoa (UDIP) no Porto. Para além disto, é fundamental empenharmos as nossas capacidades para ajudar outras entidades a conseguirem fazer um caminho de sustentabilidade e regeneração e de transformação dos seus negócios. O caminho de sustentabilidade da Católica não se faz unicamente cá dentro, mas também abrimos as portas para ajudar outros neste processo. O nosso know-how é colocado ao serviço dos nossos parceiros.

 

Considera que a sustentabilidade é uma preocupação dos mais novos? Tem esperança nas novas gerações?

Tenho muita esperança. Em julho, organizei uma Summer School em Sustainable Business em parceria com a Universidade de Viena. Estiveram cá 20 estudantes portugueses e 20 austríacos, durante três semanas, para uma formação intensiva em sustentabilidade. Todos tinham uma preocupação imensa com este tema. As novas gerações estão realmente importadas e envolvidas. Tenho muita esperança nesta nova geração, sei que são inovadores, que têm ideias e que estão, acima de tudo, despertos para tudo o que está a acontecer. É cada vez mais comum vermos nos nossos estudantes alguns hábitos como o uso de transportes públicos, a partilha de boleias, o cuidado com a alimentação e com o desperdício.  

 

Existe algum livro sobre sustentabilidade que recomende?

Becky O’Connor, 2022,“The ESG Investing Handbook – insights and developments in environmental, social & governance investment”, Harriman House.

 

O que é que gosta de fazer nos seus tempos livres?

Gosto de fazer desporto, faço vários desportos. Normalmente digo que são os meus medicamentos para o stress e para a pressão. Mas, claro, que primeiro está a família. Gosto de passear e viajar com a família.

 

Quais são as suas principais memórias de infância?

Sou de Amarante e tenho memórias de muito pequeno em Vila Caiz, a freguesia onde moravam os meus avós paternos. Muitas das minhas lembranças são a fazer a viagem entre o centro de Amarante e esta localidade de automotora. Recordo-me que, muitas vezes, de repente não sabiam de mim na pré-primária, porque eu estava no meio dos campos com o meu avô, que era agricultor. Já na primária era o meu avô materno que me ia levar e buscar à escola e que depois me deixava nos treinos de futebol. O gosto pelo desporto e pela natureza começou aí.

 

Em criança, o que é que queria ser quando fosse grande?

A minha mãe conta que nos primeiros dias da minha escola primária a professora perguntou o que é que queríamos ser quando fôssemos grandes. Os meus colegas disseram profissões como jogador de futebol, bombeiro e entre outras e quando chegou a minha vez eu respondi que queria ser reformado como o meu avô, pois recebia o seu salário e não fazia nada. Já com 6 ou 7 anos, eu revelava alguma veia para os números: estava a maximizar o valor com o mínimo de esforço (risos).

 

 

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22-09-2022