Mais de 80 estudantes participam em atividades de voluntariado

O voluntariado é uma parte intrínseca à formação dos estudantes da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Neste sentido e apesar do momento complexo que atravessamos, são várias as iniciativas promovidas pela CAtólica SOlidária (CASO) da Unidade de Desenvolvimento Integral da Pessoa.

Cumprindo todas as recomendações da Direção-Geral da Saúde, mais 80 estudantes da Católica no Porto estão envolvidos em diferentes atividades em regime presencial e em regime online: apoio a refeições a pessoas carenciadas; apoio ao estudo a crianças e adolescentes; dinamização de atividades para pessoas portadoras de deficiências; visitas domiciliárias; e também a troca de correspondência e de chamadas para o combate à solidão.

A crise vivida, fruto da pandemia da Covid-19, veio reforçar a cada vez maior necessidade de se estender a mão ao próximo porque é nos momentos mais difíceis que a solidariedade e o serviço se tornam ainda mais vitais para o mundo.

Desafiamos três estudantes da Católica a partilharem as suas experiências de voluntariado. São três testemunhos – da Constança Avides Moreira, da Rita Franco e a Beatriz Correia - que enaltecem a importância da solidariedade enquanto verdadeiro motor de crescimento pessoal, académico e profissional.

 

“O voluntariado enriquece qualquer estudante.”

Constança Avides Moreira, 19 anos, estudante do 2º ano da Licenciatura em Enfermagem da Escola de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde

Qual é a sua missão enquanto voluntária da CASO? A área em que estou inserida na associação de voluntariado CASOé a Ser+ Abrigo. Neste momento, estou a dar aulas de português a um jovem imigrante de 14 anos, tendo como principal objetivo ajudá-lo na adaptação à língua do seu novo país de residência - Portugal. Ao longo das aulas invisto e dou especial atenção à fala uma vez que esta constitui uma componente crucial para uma boa comunicação e integração na nova comunidade.

Qual tem sido o maior desafio deste trabalho enquanto voluntária? Enquanto voluntária, o maior desafio que tenho sentido é o ensino à distância, resultante das restrições impostas pela pandemia da Covid-19. Torna-se mais difícil cativar o aluno e mantê-lo motivado. Desta forma, vejo este momento como um tempo em que é imperativo desenvolver a criatividade e reinventar formas dinâmicas de aprendizagem, que visam proporcionar aulas mais animadas e interessantes. Inevitavelmente, a chegada do novo coronavírus a Portugal obrigou a uma restruturação e adaptação do voluntariado, além de ter exigido um esforço e empenho ainda maior por parte dos participantes. Neste período é ainda mais importante a presença do voluntariado, uma vez que o número de pessoas com dificuldades está aumentar e, se todos ajudarmos com pequenos gestos, podemos fazer uma grande diferença nas suas vidas. Dessa forma, e a juntar à imprevisibilidade pela qual os dias de hoje são dominados, é urgente a solidariedade, pois hoje somos nós quem oferece ajuda, mas amanhã poderemos ser nós a precisar dela.

Qual é a sua maior motivação para ser voluntária? O que me motiva a ser voluntária é saber que posso, através dos meus conhecimentos e capacidades, ajudar o próximo. No meu caso, enquanto portuguesa, não podia haver um tema que me fosse mais próximo do que a minha própria língua. Além disso, por ter uma enorme estima por esta tão diversificada e bonita língua e, como referido anteriormente, por ser um tema quase inato, posso afirmar que partilhá-la e fazê-la chegar aos outros é, sem dúvida, um privilégio.

De que forma é que o voluntariado é uma parte importante no percurso académico? O voluntariado enriquece qualquer estudante, quer do ensino superior, quer do ensino secundário ou básico e, por isso, acredito que tem um papel bastante relevante na sua vida.

Em primeiro lugar porque permite-nos não só desenvolver competências que a formação académica não engloba, mas também, aperfeiçoar outras que coincidem com a nossa área, e que serão igualmente vantajosas no futuro. Por outro lado, oferece-nos ainda uma visão e experiência de outras realidades, o que nos leva a ter uma perspetiva diferente do mundo, fazendo com que o olhemos de uma forma cada vez mais holística. Da mesma maneira, põe-nos à prova ao enfrentarmos novas situações e desafios, e promove, igualmente, o autoconhecimento, na medida em que ganhamos uma maior consciência das nossas qualidades e características a melhorar, contribuindo, assim, para o desenvolvimento pessoal de cada um. Por todos os aspetos mencionados, o voluntariado desempenha, então, um papel significativo no dia-a-dia de um estudante, complementando e potencializando a sua preparação para o complexo mundo que o espera - o mundo profissional.

 

“Ser voluntário é dar e receber”

Rita Franco, 19 anos, aluna do 2º ano da Licenciatura em Gestão da Católica Porto Business School

Qual é a sua missão enquanto voluntária da Caso? Estou na área Ser+ Exemplo tutoria da CASO. Todas as semanas acompanho uma aluna de 7º ano, ajudando tanto na organização e motivação para o estudo como no esclarecimento de dúvidas.

Qual tem sido o maior desafio deste trabalho enquanto voluntária? Tive experiências de voluntariado muito diferentes e senti dificuldade ao passar de um tipo de beneficiário para outro. Fazer voluntariado com crianças é distinto de o fazer com sem-abrigo, e também de o fazer com idosos. A experiência que fui ganhando num tipo de voluntariado, não é completamente transferível para outro tipo de voluntariado. Assim, tem sido um desafio persistir na experiência nova, até começar a sentir que as pessoas são recetivas às minhas iniciativas e formas de abordagem. No caso da tutoria, voluntariado que faço atualmente na Caso, o desafio é conhecer bem a aluna na hora semanal em que a acompanho e conseguir perceber quais os métodos mais eficazes para a ajudar. A pandemia veio dificultar essa tarefa. As tutorias são online, tornando todo o processo mais impessoal e mais lenta a construção de confiança. Para a aluna, a tutoria virá a ser, neste contexto, provavelmente ainda mais importante do que em situação normal, dada a interrupção das aulas e o novo formato que as escolas terão que adotar.

Qual é a sua maior motivação para ser voluntária? Para mim, ser voluntário é dar e receber. É entregar-me ao outro, abdicando de parte do meu tempo para acrescentar ao do outro e, no fim, ver esse tempo reavido no sorriso de quem está do outro lado. É no sorriso que me apercebo que naquela hora, naquela semana, estou a fazer a diferença na vida daquela pessoa, por muito pequena que seja.

De que forma é que o voluntariado é uma parte importante no percurso académico? Acredito que apenas a licenciatura não é suficiente para me desenvolver de forma completa, como pessoa. Desde o secundário que o voluntariado faz parte da minha semana e quando cheguei à faculdade desde logo soube que queria que essa experiência se mantivesse na minha vida.

 

“O maior desafio é dar o meu melhor!”

Beatriz Correia, 21 anos, Aluna do 4º ano da Licenciatura em Ciências da Nutrição da Escola Superior de Biotecnologia

Qual é a sua missão enquanto voluntária da CASO? Colaboro na área Ser + Exemplo e Ser + Abrigo. É no projeto Porta Solidária que entrego refeições ao jantar a pessoas que necessitam e recorrem a ajuda.

Qual tem sido o maior desafio deste trabalho enquanto voluntária? O maior desafio é dar o meu melhor e não desapontar ninguém, estar presente e fazer o máximo que posso enquanto estou a fazer voluntariado. Especialmente nesta área em que faço voluntariado, a área dos sem abrigo, que com o evoluir da pandemia mais pessoas ficaram sem emprego, os salários foram reduzidos e consequentemente as pessoas recorrem mais a este tipo de ajuda. Por exemplo, a Porta Solidária em março de 2020 servia à volta de 100 refeições, em novembro estávamos a servir à volta de 600 e agora em janeiro há dias em que alcançamos as 1000 refeições. Isto é uma prova de que as pessoas estão a passar muitas dificuldades. É importante referir que a Porta Solidária não precisa de ser obrigatoriamente para sem abrigo e eu já cheguei a entregar comida a casais com 7 filhos. Tendo em conta estes dados há uma grande necessidade de voluntários para que o serviço seja cumprido, é necessária uma grande equipa de voluntários, presentes e com vontade de trabalhar.  

O que é que a move a querer ser voluntária? Eu sempre tive a sorte de ter uma vida facilitada e agradeço muito por ela. E é por saber desde sempre desta sorte que sempre quis contribuir para que os outros possam ter nem que fosse um terço da que eu tenho. A felicidade das pessoas, os sorrisos rasgados, as lágrimas a escorrer pela cara, os olhos brilhantes são momentos que fazem tudo valer a pena. Eu faço voluntariado há alguns anos e foram poucas as vezes que me disseram obrigada por isto e por aquilo, mas a verdade é que sempre senti pelos olhares e pelas atitudes os agradecimentos e isso vale mais que mil palavras. Poder saber que um pai se deita de consciência tranquila, porque conseguiu que os seus filhos não fossem para a cama sem comer faz valer a pena todas as horas gastas a preparar refeições e a trabalhar sem parar. Faço com uma alegria que ninguém imagina e quero ser voluntária a minha vida toda.

De que forma é que o voluntariado é uma parte fundamental no seu percurso académico? O voluntariado no meu percurso académico apareceu no meu segundo ano da faculdade. Inscrevi-me através da CASO e fiz voluntariado um ano na FAP no bairro. Para mim o voluntariado traz muitas vantagens: faz-me ser uma pessoa mais organizada com o tempo, pois como quero estar muito tempo a ajudar, o tempo de estudo tem de render o máximo possível; faz-me ser uma pessoa mais compreensiva, paciente, trabalhadora e lutadora tanto nos trabalhos em grupo como nos trabalhos individuais. 

Vontade em ajudar? Entre em contacto com a CAtólica SOlidária através do caso@porto.ucp.pt

1 de fevereiro de 2021

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