João Pinto: “Estou, verdadeiramente, comprometido com a aposta na Internacionalização.”

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João Pinto é o novo diretor da Católica Porto Business School, missão que assume com muita “responsabilidade”. Para além de também ser docente e investigador, é membro da comissão executiva da Universidade Católica Portuguesa no Porto. É co-líder do INSURE.hub, uma plataforma de inovação, sustentabilidade e regeneração da Católica que já soma mais de 70 parceiros. Desejos para 2024? Que a Católica continue a impactar a sociedade e que o mundo seja capaz de fazer uma transição para uma economia mais sustentável.

 

Foi, recentemente, nomeado diretor da Católica Porto Business School. Como é que encara este novo desafio?

Com muita responsabilidade e com o sentido de missão de levar a escola para outros níveis de reconhecimento, nomeadamente internacional. Vamos desenvolver a Escola em linha com a estratégia da Universidade Católica Portuguesa, tendo por base um conjunto de pilares importantes, como os propósitos que têm vindo a ser proclamados pelo Papa Francisco, o desenvolvimento de uma Escola de impacto, a execução do Plano de Desenvolvimento Estratégico da CPBS para 2021-25 e, também, a promoção de projetos interdisciplinares. A estratégia está focada na internacionalização, na ética, na responsabilidade social, na sustentabilidade.

 

Ter uma boa equipa é importante?

É essencial, porque nada se faz sozinho. Estou muito contente com a equipa que me vai acompanhar. Ter tido algum tempo para pensar na equipa foi muito importante. E esta equipa dá-me todas as garantias de que vamos levar a Escola mais longe. Tudo faremos para que seja o início de um novo ciclo para a Católica Porto Business School.

 

Porque é que a internacionalização é uma prioridade?

Estou, verdadeiramente, comprometido com a aposta na Internacionalização. A estratégia está focada em trazer mais alunos internacionais e mais parcerias com escolas internacionais reputadas. Portugal está com um desafio enorme do ponto de vista demográfico, porque, mais cedo ou mais tarde, vamos assistir a uma redução da procura de estudantes nacionais. Esta redução deve ser substituída por alunos internacionais que poderão querer vir para a nossa Escola. Queremos ser não apenas uma opção para quem quer vir para cá através do programa Erasmus durante um semestre, mas queremos, também, que nos considerem para fazerem o curso de forma integral.

 

O que é que diferencia a Católica Porto Business School?

Oferecemos um ensino diferenciado e de qualidade. Temos um ensino de proximidade e destacamo-nos pela produção de conhecimento de fronteira nas áreas de Economia e Gestão. Em relação à transferência de conhecimento para a sociedade, a CPBS soube ser inovadora e pioneira no desígnio da aproximação à comunidade e ao tecido empresarial. Nos mais de 35 anos de existência, soubemo-nos assumir como uma das mais destacadas Escolas de Negócios do país. Fazemos parte de um grupo restrito de três escolas em Portugal que tem a tripla acreditação – EQUIS, AMBA e AACSB. É um legado muito importante que nos foi deixado pelas Direções anteriores da CPBS. Há outro elemento que nos diferencia e que é precisamente a base através da qual tudo se constrói e existe porque somos uma Universidade Católica. Temos um conjunto de princípios de base que são fundamentais: a centralidade na pessoa humana e, também, todo um conjunto de valores fundamentais, tai como respeito, solidariedade e ética.

 

A COP28 marcou o fim do ano de 2023. Que avaliação faz do que foi determinado?

Se por um lado, as decisões que foram tomadas foram importantes, como a triplicação da produção de energias renováveis até 2030 e o término da utilização de fontes de energia fóssil, por outro, ficou sem resposta a questão acerca do financiamento. Para mim, na perspetiva de um financeiro, considero que não se falou de um tema essencial que é o do financiamento de todo o investimento a realizar no processo de transição climática. Existe um gap de financiamento muito considerável. Adicionalmente, a inexistência de promessas firmes de apoio financeiro por parte dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, poderá limitar o alcance dos objetivos estabelecidos na COP28.

 

É sobretudo um problema de financiamento?

Sim, porque não há investimento se não houver financiamento. Como é que se vai pagar? Quem é que vai pagar? É preciso trazer fundos privados e dar motivação e vantagens para que eles entrem. Outro ponto importante, é que maioritariamente continuamos a olhar apenas para a questão do carbono, quando no total são nove os limites sociais e ambientais. A emissão de carbono é só um deles. Temos de evitar a tendência de apenas olharmos para a questão pela perspetiva do carbono e dar atenção, por exemplo, também, à biodiversidade e aos oceanos.

 

“Hoje em dia, os estudantes têm muito mais consciência da importância da sustentabilidade.”

 

O INSURE.hub, uma iniciativa da Católica no Porto - através da Católica Porto Business School e da Escola Superior de Biotecnologia – em parceria com a Planetiers New Generation, tem três anos e já soma mais de 70 entidades associadas. Se há três anos lhe tivessem dito que o projeto ia estar neste estado de maturidade, acreditava?

Sinceramente, são resultados que me surpreendem muito e que, confesso, que não estava nada à espera, principalmente porque trabalhamos com poucos recursos, mas ainda assim, e o resultado está à vista, tem sido possível fazermos muito. Temos mais de 70 parceiros e estou convicto de que não será preciso muito tempo até chegarmos a uma centena. Isto é muito positivo, porque demonstra que a Sustentabilidade está na agenda das empresas.

 

Qual é a esfera de ação do INSURE.hub?

A Sustentabilidade é o que nos move e a nossa atuação desdobra-se em diferentes dimensões. Na consultoria e apoio às empresas e na definição de uma estratégia de sustentabilidade, seja na transferência de conhecimento para a indústria e no estabelecimento de pontes entre o conhecimento, seja na formação com cursos de formação avançada e, também, na literacia em sustentabilidade, através da organização de eventos que possibilitam a partilha de conhecimento e o networking e, também, através da promoção da sustentabilidade junto dos mais novos nas escolas e junto da sociedade. Ainda nesta área estamos também a trabalhar no projeto de tradução das 365 fábulas do Professor Gunter Pauli que falam de sustentabilidade, mas sempre numa lógica de empreendedorismo. Com isto queremos que as nossas crianças, as gerações futuras, cresçam conscientes da importância da sustentabilidade, mas também com uma veia criativa e empreendedora. A atuação do INSURE.hub é muito diversa e está sempre em colaboração e em rede.

 

Estão as gerações mais jovens, hoje em dia, mais conscientes para o tema da Sustentabilidade?

Hoje em dia, os estudantes têm muito mais consciência da importância da sustentabilidade. Noto uma diferença muito grande se for comparar com os meus alunos de há alguns anos. Quando eu comecei a dar aulas era totalmente diferente. Atualmente, os alunos percebem muito melhor o problema e estão mais alerta. Estão muito mais aptos para o problema e são, verdadeiramente, mais sustentáveis. Nota-se que já tem vindo a ser feito trabalho ao nível da educação e preparação.  

 

Desde 2017, é membro comissão executiva do Centro Regional do Porto. Que pilares orientam a estratégia da Católica no Porto?

Quando esta comissão executiva tomou posse em 2017 houve um compromisso claro com a interdisciplinaridade, a responsabilidade social e a internacionalização. A Católica no Porto tem um campus único com sete faculdades. Estas áreas de conhecimento diverso cruzam-se todos os dias e o potencial é enorme. Sabemos bem que, hoje em dia, qualquer abordagem e resposta a um problema só é conseguida de forma plena quando temos uma visão interdisciplinar e holística. Fomentar a interdisciplinaridade para a Católica no Porto é fundamental. Relativamente à responsabilidade social, a Católica no Porto tem uma história muito grande de serviço à comunidade, através da Unidade de Desenvolvimento Integral da Pessoa, da Área Transversal de Economia Social, através da ligação e colaboração com várias entidades, quer em termos de diagnóstico, quer em termos de prestação de serviço e de formação.  A internacionalização é também uma das prioridades. Tem vindo a ser desenvolvido um trabalho de atração de mais empresas para projetos internacionais e tem havido uma grande aposta na área da sustentabilidade e da economia circular, com vários projetos em curso. Promover mais parcerias e trabalhar essa relação com os stakeholders, não só nacionais, mas, também, internacionais é um dos caminhos que temos percorrido.

 

“Dar aulas realiza-me imenso.”

 

Como é que olha para o papel das Universidades em Portugal?

As Universidades podiam ter um papel mais ativo do que têm em Portugal. Considero que há dois lados do problema. O poder político podia recorrer muito mais às universidades, podia solicitar o seu apoio e acompanhamento em decisões estratégicas.
Faz todo o sentido que sejam ouvidos e envolvidos professores e investigadores de diferentes Universidades e que se possam pronunciar relativamente aos mais variados temas, como seja o novo aeroporto, a alta velocidade, a sustentabilidade, as infraestruturas portuárias, a educação, a saúde, entre outros. São muitos os temas onde acredito que as Universidades poderiam ter valor a acrescentar. O outro lado do problema está precisamente nas Universidades, porque, em Portugal, ainda vivem muito fechadas em si e com pouca abertura para a sociedade e a comunidade.

 

O que mais gosta é de dar aulas?

Gosto muito de ser professor. Fui convidado para algumas funções que recusei, porque me obrigavam a deixar de dar aulas. Dar aulas realiza-me imenso. O que mais me motiva é a possibilidade de poder contribuir para o seu desenvolvimento. E quando falo de desenvolvimento não me refiro apenas ao conhecimento técnico, mas, também, em termos de soft skills. Enquanto professor, aquilo que mais quero é ser capaz de motivar e incentivar os meus alunos ou ser capaz de iluminar de alguma forma o caminho deles. Na Católica privilegiamos muito esta dimensão e esta formação integral. Os nossos alunos percebem que têm de ser líderes com mente, mas, também, têm de ser líderes com o coração. Caso contrário, o nosso futuro estará em causa. Formamos estudantes que tenham esta responsabilidade social.  Atuamos dentro de limites éticos, ambientais, sociais e, enquanto professor, transmitir isso e dar o exemplo é a minha prioridade.

 

O que é que o fascina na Gestão?

A Gestão é muito desafiante. A Gestão exige grande conhecimento técnico, como a gestão financeira, a gestão de tesouraria, os cash flows, etc. Mas quando se chega a um nível de Gestão onde estamos a gerir pessoas, o mais importante é a capacidade de liderança, de envolvimento, de delegação. O gestor passa a ser um gestor de recursos, um gestor de pessoas, um gestor de comunidade. É neste campo que entram competências menos técnicas, mas entram outras que também são altamente desafiantes. Sermos capazes de ter empatia, de conseguirmos motivar e desafiar equipas, de antecipar problemas.

 

“Sou um otimista por natureza.”

 

Gosta muito de fazer desporto. Podemos dizer que o desporto o ajuda a ser melhor gestor?

Sim, porque para mim o desporto é terapêutico. O desporto traz-me muito equilíbrio e bem-estar à minha vida pessoal e profissional.

 

Também foi jogador de futebol …

Joguei no Amarante e no Boavista. Jogava a lateral direito ou médio direito. Mas agora tenho jogado pouco. Aliás, desde o COVID-19 que não voltei a jogar. Gosto de fazer corridas, vou ao ginásio e também gosto muito de andar de bicicleta.

 

Desejos para 2024?

Desejo que a nossa Universidade Católica Portuguesa continue a impactar a sociedade com toda a força e empenho. Quer ao nível do ensino, da investigação e na responsabilidade social. Que continue a ser esta força viva e determinada no serviço à sociedade. Desejo, também, que o mundo consiga, efetivamente, fazer a transição para uma economia mais sustentável, com uma preocupação forte no ambiente e nas pessoas. Que, tal como refere o Papa Francisco, saibamos criar e cuidar a nossa casa comum.

 

Olha para o futuro com esperança?

Sou um otimista por natureza. No mundo precisamos de mais otimistas, mas também de persistentes!  O otimismo e a persistência estão muito presentes na minha vida.

 

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04-01-2024