Maria da Conceição Silva: “Existe uma grande vontade de retribuir o tanto que recebi.”
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Conceição Silva é docente e investigadora da Católica Porto Business School (CPBS). Licenciada em Gestão pela CPBS, afirma que o ambiente da Universidade Católica foi muito marcante durante o seu percurso. Especializou-se na área de investigação operacional: medições de eficiência, produtividade e benchmarking. Atualmente, assume também a pasta da Investigação, Inovação e Sustentabilidade da faculdade, cargo que é na sua vida “um grande desafio”. Nos tempos livres? Caminhar na natureza, dançar e ler. O que é que a move? A aprendizagem!
Quais as suas memórias de infância?
Sou de Santa Maria da Feira e cresci numa aldeia muito pequenina. Quando penso na minha infância, penso logo no contacto muito próximo com a natureza que tive. As brincadeiras, o andar descalça pelo meio da natureza. Tive uma infância muito livre.
De que forma é que isso a marcou?
Tudo o que nos acontece molda-nos de alguma forma. Mas o meu gosto pela natureza deve vir daí, certamente. Essa ligação permaneceu e é parte de mim, mas também gosto muito de cidade. Talvez porque nunca tenha tido, durante a minha infância, experiências de cidade e, por isso, quando a descobri também me fascinou bastante.
Porquê estudar Gestão?
Não estava na minha cabeça seguir Gestão. O que eu queria seguir era Medicina. Inclusivamente, no secundário, mudei de uma escola em Santa Maria da Feira para uma em São João da Madeira, porque queria ir atrás de disciplinas de saúde que depois me permitissem ir para Medicina.
Assustou-se com a Medicina?
As agulhas assustavam-me (risos). Acabei por perceber que não era essa a minha vocação. Lembro-me, uma vez, em que desmaiei quando fui a uma vacina. As agulhas e o sangue impressionavam-me. Percebi que não era por ali e fui para o curso de Gestão. Sem grande convicção ou certeza, mas decidi arriscar na aventura. É nessa altura que venho para o Porto. Entrei em Gestão na Universidade Católica em 1989.
“O ambiente da Universidade Católica marcou-me muito.”
Como é que foi a descoberta da Gestão?
Adorei o curso. Evidentemente que não gostei de todas as disciplinas, mas foi uma descoberta para mim e, para alguém que não tinha entrado para o curso com grande convicção, a surpresa foi muito boa. Durante o curso, descobri o meu gosto pelas áreas mais quantitativas da gestão. Eram as disciplinas que mais me interessavam e aquelas onde tinha melhores notas.
O que é que a marcou durante o seu período de aluna da Católica?
O ambiente da Universidade Católica marcou-me muito. Fiz aqui muito bons amigos e também gostava muito das aulas. Tive aulas e professores extremamente marcantes. Ter sido estudante da Católica e ser aqui professora faz-me muito sentido. Foi aqui que eu cresci enquanto professora e enquanto pessoa. Sinto por isso gratidão para com a universidade e existe uma grande vontade de retribuir o tanto que recebi.
Durante o curso que planos fazia para o seu futuro?
Nunca fui uma pessoa de planear. É curioso, porque a minha vida foi sempre acontecendo. Nunca fiz grandes planos. Aquilo que fiz sempre foi dedicar-me às coisas que gostava com afinco. Sem pensar muito nos resultados... Quando no fim do curso fui convidada para ficar a dar aulas na Católica, nunca me tinha passado isso pela cabeça. Acabou simplesmente por acontecer e tem sido assim até aos dias de hoje. Foi o professor Alberto Castro, que era o diretor da faculdade na altura, que me convidou para ficar a dar aulas. Ele foi uma peça-chave no meu crescimento académico.
Mais tarde faz o seu mestrado em Inglaterra …
Sim, fui tirar o mestrado a Inglaterra com uma bolsa atribuída pela Católica. Foi a Católica que me proporcionou a minha primeira saída internacional. Quando fui desafiada, achei que era uma excelente ideia. Até porque aquilo que eu mais gostei durante o curso foi de estudar. Como eu gostava tanto de estudar, pareceu-me mais ou menos evidente que eu continuasse e que seguisse para mestrado e até depois para o doutoramento.
“Aquilo que nos diferencia é o nosso corpo docente.”
O que é que distingue o ensino da gestão na Católica Porto Business School?
Aquilo que nos diferencia é o nosso corpo docente. Há um verdadeiro entusiasmo e um grande espírito de equipa e de missão nos docentes. Senti muito isso enquanto fui aluna, porque pude testemunhar isso na primeira pessoa. Como aluna, sentia-se verdadeiramente que os professores estavam unidos e que trabalhavam em conjunto pelo bem dos estudantes. Atualmente, enquanto professora, tenho a experiência do outro lado e realmente há um empenho e um compromisso muito grande pelo bem dos alunos e pela sua formação e crescimento integral.
Depois do mestrado, ingressou no doutoramento. Que áreas de investigação é que tem vindo a abraçar na sua carreira académica?
Especializei-me na área de investigação operacional. Trabalho nas áreas das medições de eficiência, da produtividade e do benchmarking. No meu mestrado, que foi realizado em Inglaterra, analisei o valor acrescentado de escolas secundárias em Inglaterra. A minha tese acabou por resultar num artigo científico numa revista importante. Na altura, quando eu peguei nesta área de investigação, em Inglaterra, estava a acontecer um boom de trabalho nesta área. Estava-se a falar muito dos rankings das escolas, das medidas de eficácia, de eficiência, e, portanto, havia uma proliferação muito grande de estudos. Este tipo de discussão só vem para Portugal bastante mais tarde, mas quando começam a surgir os rankings das escolas eu comecei logo a colaborar no processo e a participar nesta área.
Tem mesmo de gostar muito da área da educação …
É a área que mais gosto, confesso. A minha tese de doutoramento foi na área da banca, mas, depois de a terminar, percebi que não queria trabalhar nesta área e que aquilo que eu realmente gostava era de trabalhar na área da educação. Entre muitos outros projetos de investigação, cheguei, na Universidade Católica, a trabalhar com o Prof. Joaquim Azevedo, na área da avaliação escolar.
É, atualmente, Associate Dean for Research, Innovation and Sustainability da Católica Porto Business School. Qual a sua principal missão?
A própria missão deste cargo está a ser construída. É a primeira vez que existe este lugar na Católica Porto Business School. Quando o Prof. João Pinto tomou posse como diretor da CPBS em dezembro de 2023, foi muito claro que estas áreas eram uma prioridade no seu mandato. São áreas aliás que já são trabalhadas na faculdade há muito tempo, mas queremos continuar a fazer caminho. São áreas que estão diretamente ligadas entre si e a própria criação desta pasta sinaliza a importância de aliar a investigação, à inovação tanto pedagógica quanto na investigação, sempre sob o chapéu da sustentabilidade. A aposta deste mandato nestas áreas é um claro sinal de que a Católica Porto Business School quer estar à frente, quer inovar cada vez mais e quer desafiar-se continuamente. Aceitar este convite foi aceitar um grande desafio.
“Acredito que estamos no mundo e na vida para aprender.”
O que é que gosta de fazer nos tempos livres?
Gosto da natureza e de fazer caminhadas ao ar livre. Gosto de dançar, gosto muito de ler, leio imenso.
O que é que mais a realiza?
Ser professora. É uma responsabilidade muito grande. Acho que essa responsabilidade é tanto maior quanto mais novos sejam os alunos. Um professor primário tem uma responsabilidade gigante! A minha maior missão como professora não é passar conteúdos. É, sim, transmitir motivação e gosto pela aprendizagem. É esta a minha visão não só para a Educação, mas também para vida. Sinto-me realizada quando tenho alunos que me dizem a importância que tive na vida deles e nas suas escolhas. Penso que nem sempre nos apercebemos da importância e do impacto que um professor pode ter na vida dos seus alunos.
Vivemos para aprender?
Acredito que estamos no mundo e na vida para aprender. É por isto que, mesmo enquanto professora, sou também eu uma aprendiza.
O que é que gosta de fazer nos tempos livres?
Gosto da natureza e de fazer caminhadas ao ar livre. Gosto de dançar, gosto muito de ler, leio imenso.
Que livro tem agora na sua mesinha de cabeceira?
Na minha mezinha de cabeceira tenho não sei quantos livros (risos). Vou lendo vários em simultâneo, mas agora estou a ler um que se chama A Física e as grandes questões da Vida de Sabine Hossenfelder. Livros sobre estes temas, aliando ciência, filosofia, espiritualidade e psicologia interessam-me muito.
Uma sugestão de local para caminhar na natureza?
Serra da Estrela!
O que é que a move na vida?
A aprendizagem. E a vontade de ser feliz!
23-05-2024