“Devia haver majoração de pensões para idosos que fiquem em casa em vez de lares” - Entrevista a António Fonseca

Católica no Porto
“Devia haver majoração de pensões para idosos que fiquem em casa em vez de lares” - Entrevista a António Fonseca
Quarta-feira, 14 de Julho de 2021 in Público

“Há uma ideia predominante em Portugal que é perigosa”, a de que “a assistência às pessoas mais velhas se faz sobretudo através das instituições, quando mais de 90% da população portuguesa mais velha envelhece em casa”, diz António Fonseca, psicólogo e consultor da Fundação Gulbenkian para a questão do envelhecimento saudável e activo. No livro Ageing in place (Envelhecimento em casa e na comunidade), que acaba de lançar, o investigador da Universidade Católica do Porto sublinha que temos de deixar de olhar para os lares de idosos como a única resposta possível no envelhecimento.

Ainda faz sentido dizer-se que se é idoso a partir dos 65 anos? Não. Faz sentido dizermos que somos idosos cada vez mais diferentes uns dos outros. E faz sentido perguntarmos o que signiÆca hoje ser idoso. O Presidente da República é uma pessoa idosa e isso não impediu lhe tivessem dado mais um mandato de cinco anos, o que faz com que esteja a caminho dos 80 anos quando terminar o mandato. Como se traduz este conceito, ageing in place, o título do seu livro?

A tradução à letra seria envelhecimento no lugar, mas o que se procura salientar é que o modo natural de envelhecer é em casa. Este não é um estudo contra o envelhecimento nas instituições, nos lares, que são estruturas absolutamente indispensáveis. Mas há uma ideia predominante em Portugal que acho que é perigosa, que é a de que a assistência às pessoas mais velhas se faz sobretudo através das instituições, quando mais de 90% da população portuguesa mais velha envelhece em casa.

É muito mais visível inaugurar um lar de idosos do que inaugurar duas carrinhas que vão andar pelas terrinhas a levar refeições, fazer curativos ao domicílio e animação social. Manter as pessoas mais velhas em Entrevista Alexandra Campos casa deve ser uma missão política e social para as próximas décadas. Mas também é preciso que as casas tenham condições para isso. Em Portugal ainda se morre de frio... Os apoios públicos devem passar por aí?

Alguns municípios já têm programas especíÆcos de apoio às obras na habitação, como Lisboa, Pombal. No ano passado, foi lançado mais um concurso (Pares) para construção e apetrechamento de soluções residenciais. Teria sido interessante que tivesse sido lançado um concurso para a construção de soluções não residenciais.

Os lares são muito visíveis, mais do que os serviços de apoio domiciliário que chegam a muito mais pessoas. A ideia de envelhecer em lares de idosos é, então, uma ideia ultrapassada? Não, por causa da quarta idade. Em situações de grande dependência as pessoas precisam de cuidados muito especializados e Æca muito caro fornecê-los em casa.

A quarta idade não tem propriamente uma idade estipulada, [começa] a partir do momento em que se Æca totalmente ou bastante dependente nas actividades básicas da vida diária. Mas, antes da grande dependência, podemos pensar em soluções alternativas que não derivem inevitavelmente para a ideia de ir viver para um lar.

Nota: Pode ler o artigo na íntegra na edição impressa do Público de 14 de julho de 2021.

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