Arménio Rego: "Até os Planetas evaporam"

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Arménio Rego: "Até os Planetas evaporam"
Quarta-feira, 23 de Junho de 2021 in Líder Online

Grande descoberta científica, na área da Astrofísica, foi a identificação de um Planeta orbitando à volta de uma estrela de neutrões. A descoberta, publicada em 1991 na revista Nature, levou os Astrónomos a supor estar-se em presença da primeira evidência forte da existência de outros sistemas planetários no universo.

Todavia, um balde de água fria abateu-se sobre Andrew Lyne, um dos autores do artigo, quando se preparava para participar na conferência da Sociedade Americana de Astronomia, em janeiro de 1992: deu-se conta de que cometera erro nos cálculos. Quando subiu ao palco, assumiu o erro e pediu desculpa.

A plateia aplaudiu-o entusiasticamente. Nas palavras do próprio Cientista, "o Planeta simplesmente evaporou". Poderá a assunção do erro por um Cientista causar danos na sua reputação? Alguma investigação sugere que não. No pior cenário, admitir o erro é menos prejudicial do que não o admitir. E, no melhor cenário, quem admite o erro conquista reputação de pessoa competente e relacionalmente mais capaz.

Quando alguém admite que errou, veicula a mensagem de que tem a situação sob controlo. Muitos cientistas reputados assim procedem. Adam Grant, Professor na Universidade da Pensilvânia, conta que, após ter feito uma intervenção numa conferência, foi abordado por Daniel Kahneman, Nobel da Economia em 2002. Grant tinha apresentado evidência contraintuitiva que colidia com a opinião de Kahneman. Este, em vez de procurar falhas no estudo de Grant, disse-lhe: "Isto é maravilhoso. Eu estava errado. (...) Estar errado é a única forma de me sentir seguro de que aprendi algo".

Numa entrevista recente ao The Guardian, Kahneman refere que uma das coisas que mais o preocupa é a arrogância dos Cientistas. Descobrir que se está errado pode ser muito desagradável. Mas pode ser também admirável, pois é essencial nos processos de aprendizagem e descoberta.

Eis como este paradoxo foi descrito por Grant quando se referiu aos melhores Cientistas: "a razão pela qual eles sentem tanto conforto quando estão errados é que têm pavor de estar errados"! Deverão os líderes assumir que cometeram um erro? Rosabeth Moss Kanter, Professora na Harvard Business School, respondeu à questão num artigo intitulado "As três pequenas palavras que todos os líderes necessitam de aprender". Eis as três palavras: "Eu estava errado/a". O tema é complexo e não compaginável com orientações perentórias.

Engolir as três palavras pode ser bastante indigesto. Mas algumas reflexões podem ser úteis para quem lidera. Primeira reflexão: alguns líderes não assumem o erro porque receiam parecer ridículos e destruir a reputação. Todavia, como se viu, esse receio pode ser exagerado. O que destrói a reputação não é a assunção do erro - é a incompetência. E, por mais competente que se seja, cometem-se erros.

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