Rui Soucasaux Sousa: "O papel transformador do ensino suportado por investigação"

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Rui Soucasaux Sousa: "O papel transformador do ensino suportado por investigação"
Sexta-feira, 4 de Junho de 2021 in Jornal Económico (O)

As universidades estão cada vez menos sozinhas na sua missão de ensino e formação de profissionais. Diversas consultoras prestam serviços de formação profissional nas suas áreas de competência. No setor das tecnologias de informação, empresas como a Google ou Microsoft ministram formação sobre os seus produtos, atribuindo certificações profissionais com grande valor no mercado de trabalho. Outras grandes empresas criaram academias corporativas para a formação dos seus colaboradores.

Então, o que diferencia o ensino que as universidades oferecem do ensino dos demais atores? As universidades não se limitam a disponibilizar conhecimento. Elas próprias produzem conhecimento científico original e independente, através de atividades de investigação.

O seu corpo docente é constituído maioritariamente por doutorados, que foram treinados e socializados durante vários anos para terem independência e espírito crítico, e a liberdade científica é um valor indiscutível. A investigação realizada assenta em metodologias escrutinadas, que asseguram a validade das suas conclusões. A investigação dá origem a um ensino diferenciado e de qualidade por muitas vias, mas referirei apenas duas para ilustrar o meu ponto.

Primeiro, a investigação demora alguns anos até ser refletida nos materiais de ensino tradicionais, como sejam os livros de texto. Este conhecimento é acedido numa primeira fase apenas pelos investigadores, que o partilham nas suas redes profissionais e artigos científicos. O mundo muda muito em alguns anos, pelo que este lag faz diferença. Por exemplo, se o leitor consultar nesta altura livros de texto tradicionais sobre a Gestão de Serviços, dificilmente encontrará capítulos sobre o impacto da Covid-19.

No entanto, neste momento está em curso trabalho de investigação sobre este tema na Católica Porto Business School e em muitas outras universidades, e esse novo conhecimento foi já transposto para as disciplinas lecionadas na Escola.

Este processo de transposição de conhecimento de ponta tem que ser realizado com prudência e espírito crítico, e não pode ser substituído por uma consulta ao wikipedia ou fontes similares. Segundo, cada vez mais as organizações valorizam a tomada de decisão com base em evidências, tirando partido do enorme manancial de investigação e dados disponível a nível global.

Para um estudante de Gestão, é crítico entender que práticas funcionam e não funcionam, e em que contextos. Uma das lições que se aprende num programa de gestão é que a resposta a muitas questões é: “Depende”. Para entender quais são as práticas de gestão mais adequadas a cada situação é necessário um conhecimento que não deve provir apenas da experiência pessoal de quem dá as aulas, uma vez que esta será naturalmente restrita e subjetiva.

Nota: Pode ler o artigo na íntegra na edição impressa do Jornal Económico de 04 de junho de 2021.

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