Arménio Rego: “Quanta ideologia há na narrativa meritocrática?”

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Arménio Rego: “Quanta ideologia há na narrativa meritocrática?”
Quarta-feira, 6 de Outubro de 2021 in Revista Líder

Premissa: da essência da ética meritocrática faz parte a noção de que não devemos ser premiados, ou castigados, por algo que está fora do nosso controlo. Nada contra, tudo a favor. Agora, vou ao corolário, não muito confortável. A noção de mérito está amplamente disseminada nas sociedades contemporâneas. Toma-se o mérito como fundamento para atribuir às pessoas o que, alegadamente, é justo. Mesmo quando se admite que o princípio é mal aplicado, tomam-se a sua natureza e o seu teor moral como inquestionáveis. Os beneficiários desta narrativa nem sempre se dão conta de que existe, entre as camadas da população mais frágeis, descontentamento com o princípio ou com o modo como ele é implementado.

E, para desvalorizar esse descontentamento e manter o status quo, os beneficiários acusam de “ideológicos” os opositores. Todavia, como referiu Thomas Piketty (em Capital e Ideologia), “a sua postura pretensamente pós- -ideológica dissimula mal a sua falta de interesse pelos factos, a amplitude da sua ignorância, o desazo dos seus pressupostos e o seu egoísmo de classe”.

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