Arménio Rego: "O tripé da Liderança"

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Arménio Rego: "O tripé da Liderança"
Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2021 in Líder Online

Martin Luther King tem sido celebrado como um dos líderes mais carismáticos da história sociopolítica recente. O seu busto ocupou o gabinete presidencial de Obama, foi retirado por Trump, e regressou pelas mãos de Joe Biden. Muitos alegarão que Luther King nasceu para ser líder.

Mas leia-se o que o general Stanley McChristal escreveu num livro sobre mitos e realidades da liderança, a propósito do boicote que os negros haviam encetado, em dezembro de 1955, contra a discriminação de que eram alvo nos autocarros: "King não encetou o boicote aos autocarros, outros o fizeram. Mas as circunstâncias empurraram-no para o papel de líder.

O jovem pastor ficou totalmente dependente do movimento de que fazia parte. Mas, nessa noite, o movimento dependia dele para encontrar direção". Essa era uma noite em que o movimento necessitava de escolher um rumo após um ataque bombista à casa de King.

O líder acabou por escolher a via da não-violência. Este era um dos primeiros desafios com que se deparava pouco tempo após ter sido eleito presidente da Montgomery Improvement Association. Não se tinha candidatado ao lugar - mas um empresário local havia sugerido o seu nome e nenhum outro candidato surgira. Foram as circunstâncias que alteraram o rumo da sua vida.

O caso ajuda a compreender o equívoco em que frequentemente incorremos quando procuramos compreender o fenómeno da liderança. Tendemos a confundir "liderança" com "líder". Mas liderança, mesmo a carismática, é muito mais do que líder - é um processo dinâmico que envolve líder, liderados e a situação.

Se a liderança carismática dependesse apenas dos traços do líder, este seria carismático com diferentes liderados e em diferentes situações. Sabemos que não é assim. Alguns líderes são carismáticos durante algum tempo - mas o seu carisma dissipa-se e quase são votados ao esquecimento. Outros adquirem, inesperadamente, uma aura carismática. Porquê? Porque as exigências da situação mudam ou os liderados passam a lançar sobre o líder novas expectativas.

Lech Walesa, fundador do Solidariedade e depois Presidente da Polónia, fruiu de um carisma intenso - mas foi "corrido" com uma percentagem ínfima de votos na última eleição a que se candidatou. Não foi Walesa que mudou - o que mudou foram as circunstâncias e as expectativas dos liderados. Sobre Xanana Gusmão, herói da resistência timorense, há quem testemunhe que foram as circunstâncias, não o seu "carisma", que o catapultaram para o altar, e o sacrifício, da liderança carismática.

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