Francisca Guedes de Oliveira: "Na Europa, ninguém nos ouve berrar!"

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Francisca Guedes de Oliveira: "Na Europa, ninguém nos ouve berrar!"
Sexta-feira, 14 de Maio de 2021 in Jornal Económico Online (O)

A Comissão demorou meses a assinar os contratos de compra das vacinas. Misturou, numa negociação interminável, a burocracia de Bruxelas com a austeridade alemã. O preço a pagar está a ser caro.

O título não é meu, é da "Economist" de 3 de fevereiro, mas é muito ilustrativo daquilo que considero, em grande medida, ser um dos piores males da Europa.

Os governos nacionais estão sistematicamente sujeitos a "berros". Têm os partidos da oposição à espera de qualquer erro ou deslize (às vezes até inventam alguns), têm os sindicatos, as ordens profissionais, as organizações patronais, etc. Todos a olharem para interesses específicos e cada um com a sua perspetiva sobre certo e errado, "dos e donts".

Um governo nacional que tivesse gerido o processo de aquisição e distribuição das vacinas com a inépcia europeia estaria agora pelas ruas da amargura.

A história começou, aparentemente bem. Uma Europa unida, solidária com uma sorridente Ursula von der Leyen, anunciava a negociação da compra e a subsequente repartição das doses pelos vários Estados-membros. Esta solução dava-nos força para negociar, para conseguir volume e rapidez e para ninguém, sobretudo os pequenos, ficarem para trás.

Para um país como o nosso a solução parecia ideal. Mas a realidade da máquina burocrática europeia, sem oposição e sem crivo político, sobrepôs-se rapidamente ao ideal inicial.

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