"Grito claro: do sentido e da asfixia da ação docente"

Educação e Psicologia
"Grito claro: do sentido e da asfixia da ação docente"
Domingo, 20 de Novembro de 2022 in Público online

Artigo de opinião de José Matias Alves, docente da Faculdade de Educação e Psicologia.
Heterogeneidade de culturas, condições e interesses; dispersão e desencontro de visões e perspetivas; articulações débeis entre visão e missão, finalidades e funções; excesso de pedidos familiares e sociais; excesso de exigências políticas; excesso de exposição pública (não obstante a aparência da câmara escura); um modelo escolar que faz do ensinar a todos como se fossem um só, das hierarquias e da segmentação a matriz do seu funcionamento; uma solidão profissional que gera o desamparo e a angústia: eis os ingredientes que fazem do trabalho docente uma missão quase impossível.
Pois, nas situações concretas da ação, como pode o professor atender simultaneamente a dez ou vinte pedidos diferentes, como pode individualizar propostas de trabalho, como pode responder, naquele preciso minuto, a muitos pedidos que pairam em muitos olhares? Como pode, sozinho, construir os recursos didáticos necessários à diversidade? Como pode dissipar dúvidas quanto ao êxito das estratégias que inventou, desenvolveu e praticou quando se sabe que os modos do fazer pedagógico são, por definição, ambíguos, problemáticos e incertos? Quando os espaços e os tempos para o encontro profissional e o trabalho colaborativo são quase sempre descoincidentes? Quando a escola é ainda esse lugar onde todos se cruzam (onde todos se desencontram) e entreolham nos corredores que dão acesso ao aulário?

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