Opinião: Too old for internet?, por Paula Ribeiro de Faria

Direito
Opinião: Too old for internet?, por Paula Ribeiro de Faria
Terça-feira, 28 de Setembro de 2021 in Advocatus

É comum ouvir falar do perigo que a internet representa para crianças e jovens, mas menos frequente ouvir fazer referência aos perigos envolvidos na utilização abusiva da internet relativamente às pessoas idosas (digital elder abuse). Em relação aos jovens fala-se frequentemente de cyberbullying, são lembrados os riscos dos desafios lançados on-line e que podem comprometer a sua vida e integridade física (o desafio da baleia azul, em que a criança ia percorrendo 50 níveis de dificuldade crescente até que tudo terminava num mergulho para o abismo – o último nível, o mais difícil, em que a vítima se suicidava, ou o desafio do sal e do gelo, em que o jovem coloca cubos de gelo sobre uma camada de sal espalhada na pele, consistindo o desafio em ver quanto tempo é capaz de aguentar a dor, mas o que pode causar queimaduras de segundo e de terceiro graus), reflecte-se amiúde sobre os perigos de perseguição por predadores sexuais, da captura em redes de jogos de azar, e da divulgação de informação privada ou de imagens intimas que podem vir a prejudicar os jovens em adultos, mas pouco se diz da necessidade de proteger os mais velhos contra os crimes cometidos pela internet, e que exploram a sua vulnerabilidade.

As pessoas com mais de sessenta anos constituem um segmento cada vez maior da população, sendo previsível que em 2030 representem 25% da população mundial. Esta faixa da população, que genericamente constitui um grupo – a população idosa – engloba pessoas com necessidades e vulnerabilidades completamente distintas, inclusivamente no que diz respeito ao risco de exposição a este tipo de crimes. Enquanto as pessoas de idade que se encontram acamadas, institucionalizadas, ou que necessitam de apoio domiciliário, são mais frequentemente vítimas de abusos de natureza psicológica e física, muitas vezes de natureza negligente, as pessoas de idade – normalmente mais novas, ou mais perto da idade da reforma – que vivem independentes, e que recorrem cada vez mais à internet para pagar as contas, e aceder às redes sociais como forma de contacto e de socialização, tornam-se vítimas prováveis de outras formas de exploração, normalmente de natureza financeira, pelos meios digitais.

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