Pandemia provocou desespero entre idosos e agravou saúde mental

Católica no Porto
Pandemia provocou desespero entre idosos e agravou saúde mental
Segunda-feira, 24 de Maio de 2021 in RTP Online

O isolamento imposto aos idosos que vivem em lares, por causa da pandemia de covid-19, agravou a saúde mental, trouxe mais solidão, depressão, tristeza, e alguns casos de desespero, que a vacinação tem vindo a contrariar. Segundo o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), que representa cerca de 900 lares, a vacinação teve logo um "impacto muito positivo" entre estas pessoas porque, apesar de a vacinação não significar o fim do vírus, permitiu "algumas saídas" e isso "alivia a situação".

De acordo com Lino Maia, a vacinação foi um balão de oxigénio, já que com "o controlo de surtos, as pessoas já podiam sair dos quartos". "Fui a alguns lares nos dias com surto e depois quando foi declarado extinto e quando antes não se via vivalma, porque as pessoas estavam encerradas nos quartos, no dia em que se abriram as portas dos quartos para as pessoas poderem sair, era quase um rebentar da primavera, um outro ânimo que se notava nas pessoas", descreveu.

Em Portugal existem cerca de 3.500 lares, entre lucrativos, setor social e não legalizados, onde vivem aproximadamente 80 mil idosos, uma população "bastante frágil" que foi particularmente afetada pelos efeitos da covid-19, privada de liberdade e de contactos com a família. A primeira coisa que Rosa Ramalho, com 80 anos e a viver no lar da Santa Casa da Misericórdia de Mora, fez assim que foi vacinada foi tirar a máscara da cara e, admite, "isso foi um alívio". Para trás ficou um período "um bocadinho difícil", em que não via os filhos nem as netas e em que estava obrigada a viver à distância dos beijos e abraços que a amiga Margarida lhe queria dar e aos quais respondia com um "agora é com o cotovelo".

"Tive conhecimento de situações de pessoas que se atiraram da janela abaixo porque já não aguentavam com essa situação de solidão, de confinamento, sem visitas, apesar de todo o esforço que foi feito pelas instituições", contou Lino Maia. O responsável lembrou que nas instituições onde se registavam surtos, "durante um mês as pessoas não podiam sair dos quartos". "Além de não terem visitas, também não podiam sair do quarto, estavam ali confinadas no seu quarto. Isto fragiliza, a situação agravou-se", relatou Lino Maia. O presidente da CNIS lembrou, por outro lado, que o aumento da esperança de vida não tem sido acompanhado do aumento da qualidade de vida e que as pessoas quando chegam ao lar têm já uma idade muita avançada, a saúde afetada e não raramente problemas de saúde mental.

"A saúde mental tem sido parente pobre da saúde neste país, na há respostas suficientes, mas de facto a situação agravou-se, isso é inquestionável", disse Lino Maia. O responsável admitiu que a pandemia teve consequências a dois níveis: por um lado, agravando os problemas de saúde mental e, por outro, evidenciando entre as pessoas que não tinham até então nenhuma patologia diagnosticada.

Um estudo da CNIS, desenvolvido pela Universidade Católica, revelou que os idosos foram o grupo mais afetado entre os utentes das instituições, afetados pelas consequências do isolamento, desde a solidão, perdas relacionais e de sociabilização, desgaste, stress e ansiedade, tristeza ou medo.

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