"A Pobreza e a Riqueza - A Biologia e a Puberdade"

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"A Pobreza e a Riqueza - A Biologia e a Puberdade"
Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2021 in Líder Online

Arménio Rego, docente da Católica Porto Business School.
O Natal transformou-se em tempo de comprar. Mas pode também ser um tempo para pensar em assuntos sérios. Aqui me debruço sobre um desses temas. As moscas-da-fruta que habitam ambientes agrestes, nos quais as possibilidades de sobrevivência são menores, reproduzem-se mais cedo e geram maior quantidade de ovos por fêmea. Eis arazão: antes que morram, tratam de gerar descendentes. É uma lógica assente na necessidade de reproduzirem os seus genes e deixarem prole. Parece que os humanos têm comportamento similar.  A quem ficar chocado com esta afirmação sugiro que se coloque uma questão: porque a maternidade precoce é maior entre as classes economicamente mais desfavorecidas? A resposta habitual envolve imputações pejorativas: essas pessoas são pobres precisamente porque são desprovidas de importantes atributos de caráter, não se autorregulam, procuram fruir o presente e não refletem devidamente sobre as consequências das suas decisões. A ciência sugere que essas imputações são, na melhor das hipóteses, incompletas. Eis o que foi escrito num artigo científico sobre a relação entre puberdade e pobreza:
“Viver para o presente é uma adaptação condicional resultante do baixo controlo dos impulsos, a qual é mais provável em nichos pobres com menores e menos previsíveis recursos socioeconómicos e de segurança (…). Consequentemente, em tais ambientes, o início mais precoce da puberdade pode estar associado a processos neuro-cognitivos que estimulam decisões impulsivas arriscadas, aumentando as probabilidades de atividade sexual mais frequente e iniciada mais precocemente, juntamente com outros aspetos relacionados com um maior investimento em esforços de acasalamento (…)”.

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