"Romances que acabam em tragédia"

Business School
"Romances que acabam em tragédia"
Quarta-feira, 5 de Janeiro de 2022 in Líder Online

Arménio Rego, docente da Católica Porto Business School.
Quase três centenas e meia de pessoas perderam a vida, em 29 de outubro de 2018 e 10 de março de 2019, na queda de dois aviões Boeing 737 Max – um operado pela Lion Air, outro pela Ethiopian Airlines. A investigação levada a cabo pelas autoridades e pelos media traça um retrato bastante tenebroso das razões conducentes às tragédias. A ponta do icebergue é a mistura explosiva de falhas no projeto da aeronave, na formação dos pilotos e na manutenção dos aparelhos realizada pelas duas companhias áreas. Mas a parte submersa do icebergue que provocou os acidentes está repleta de vícios de gestão.
Durante décadas, a Boeing destacou-se por uma cultura de gestão que concedia primazia à segurança. Era “governada” por engenheiros. Com o decurso do tempo, transformou-se num epítome da mais perversa modalidade do capitalismo de acionista. Segundo Robison, o autor de Flying Blind: The 737 Max Tragedy and the Fall of Boeing, a empresa idolatrou gestores pela capacidade de reduzirem custos, cooptou os reguladores com “montes de dinheiro”, e pressionou os fornecedores através de táticas negociais típicas das grandes cadeias de distribuição. Desprezou os sindicatos e recorreu abundantemente à subcontratação de componentes técnicas, para cortar nos custos. Esta cultura de gestão, encetada no virar do milénio, foi significativamente instigada por executivos de topo provindos de outro epítome do capitalismo de acionista: a General Electric (GE). O implacável Jack Welch, que liderou a GE durante duas décadas e enfeitiçou tantos aprendizes da gestão, foi um dos mais reconhecidos pioneiros da maximização do valor para o acionista.

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