Ventos de mudança nos serviços jurídicos: que esperar do “LegalTech”?

Direito
Ventos de mudança nos serviços jurídicos: que esperar do “LegalTech”?
Segunda-feira, 22 de Março de 2021 in Expresso Online

Vivemos tempos de obsessão com o futuro. A inovação também chega à advocacia e à prestação de serviços jurídicos. Alinhado com o crescente posicionamento dos departamentos jurídicos como parceiros estratégicos no negócio (deixando para trás os tempos em que estes se remetiam a uma função de suporte), assistimos a um incremento do investimento em ferramentas tecnológicas jurídicas, na busca do aumento da eficiência (fala-se a este propósito em “customer centricity” - melhorar a resposta ao cliente) e da redução de custos.

No entanto, o chamado “Legaltech” (ou mais amplamente, o “Regtech”, isto é, as tecnologias concebidas para gerir exigências regulatórias) é ainda uma área relativamente recente. Nos EUA, vanguarda neste domínio, as duas áreas em que existem ferramentas mais evoluídas dizem respeito à investigação documental (e-discovery) e a soluções de gestão de contratos (CLM).

Além destas, a Gartner, uma das mais reputadas analistas do mercado de TI, identificou 4 grandes tendências em 2020: sistemas integrados de gestão de sociedades de advogados ou departamentos jurídicos (Enterprise Legal Management), gestão de exercício de direitos, especialmente em matéria de protecção de dados, software com capacidade preditiva e automação de processos (Robotic Process Automation).

A relevância das oportunidades deste mercado pode ser medida pelo interesse que está a gerar junto de fornecedores tradicionais de tecnologia: a par das soluções que habitualmente já fornecem, nomeadamente na área da contabilidade ou gestão de recursos humanos, estes viram-se agora de forma mais consistente para o mundo dos serviços jurídicos. E o investimento dos departamentos jurídicos em ferramentas tecnológicas também está a aumentar exponencialmente: quem ainda não usa está à procura.

A crescente adopção destas ferramentas - e, sublinhe-se, tanto ou mais importante que a qualidade do software, será o seu uso efectivo pelas organizações, desafio que as empresas não devem negligenciar sob pena de fracasso - está a provocar algumas transformações no mercado dos serviços jurídicos.

Com a automação, acentua-se a tendência para uma crescente especialização do advogado interno. As competências centrais na actividade das empresas tenderão a ser exercidas internamente (a tecnologia vai permitir uma melhor rentabilização de recursos, libertando os advogados de tarefas repetitivas e com pouco valor acrescentado e permitindo que se foquem nas suas áreas de especialização) reduzindo os custos e a dependência de especialistas externos.

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