Fátima Poças: “A Embalagem é uma área fundamental na indústria.”

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É docente e investigadora da Escola Superior de Biotecnologia. Coordena o CINATE, o Laboratório de Análises e Ensaios a Alimentos e Embalagens, reconhecido pelo Ministério da Agricultura como laboratório de referência na área dos materiais em contacto. Tem dedicado a sua vida ao trabalho e investigação na área das Embalagens, área que descreve como muito “versátil e ampla”. A reciclagem e o conhecimento em toda a cadeia são alguns dos grandes desafios que esta área enfrenta. Nos tempos livres? Muito desporto e sempre a sonhar com a próxima viagem.

 

Tem dedicado a sua vida ao estudo das Embalagens. Como surgiu este caminho?

Formei-me em Engenharia Química e, algures no último ano do curso, um professor, que orientava ações de formação em empresas, desafiou-me e a uma outra colega para darmos formação a colaboradores da fábrica das bolachas Triunfo em Coimbra. Durante esse período, além de aprendermos muito, tive a perceção de que a Embalagem é uma área fundamental na indústria e que é, por si só, uma disciplina de estudo.

 

Área que abraça até hoje …

Foi na Escola Superior de Biotecnologia que fui desafiada a criar um centro dedicado à Embalagem. A partir daí, dediquei toda a minha vida a esta área.

 

“Pensar uma embalagem implica pensar de forma transversal e global.”

 

O que é que a fascina?

A versatilidade e o facto de ser muito ampla. Trabalhamos todas as componentes, desde a ciência dos materiais, ao sistema que protege o alimento, ao impacto no ambiente, entre outras. Pensar uma embalagem implica pensar de forma transversal e global. Todos os elementos têm de ser ponderados e há muitos critérios a ter em conta. Quando comecei, a Embalagem era uma área muito pouco sólida. Sabia-se pouco, investia-se pouco. A Escola Superior de Biotecnologia era uma exceção e foi pioneira. Fomos a primeira faculdade a ter uma disciplina chamada Materiais e Embalagens.

 

É uma área multidisciplinar?

Sim, porque envolve várias áreas e é preciso saber um bocadinho de tudo e ser capaz de unir e reunir conhecimento, pensando nos elementos de todo o sistema. Acho que isso é o que mais gosto. Eu sou uma pessoa bastante horizontal, que gosta de ir buscar um bocadinho a cada área.

 

Quais são os grandes desafios que esta área enfrenta atualmente?

O principal desafio é o conhecimento da cadeia, desde a produção dos materiais até ao consumidor. A falta de informação é uma grande limitação que impede que se façam as coisas de forma mais sustentável. A participação do consumidor nos sistemas de recuperação é fundamental. Fala-se muito de embalagens e materiais biodegradáveis, mas parece-me que, na área das embalagens para alimentos, a reciclagem é muito mais importante. A implementação desta prática ainda é um grande desafio. Requer a intervenção do consumidor e para o consumidor intervir tem de saber o que está a fazer e porque o está a fazer. Ao nível dos industriais do setor alimentar também é necessário ter conhecimento dos impactos que diferentes embalagens têm a vários níveis. O conhecimento tem de estar em toda a cadeia - do industrial alimentar que seleciona o material até ao nível dos retalhistas e, por fim, dos próprios consumidores. Se a informação fluísse melhor, e com uma boa gestão de stocks, não precisávamos de ter tempos de validade tão longos. O fluxo de conhecimento ao longo da cadeia é um grande desafio. É a falta de conhecimento que gera grandes limitações na implementação de melhores soluções.

 

“Como coordenadora do CINATE, tenho sempre muitos casos práticos para levar aos meus alunos.”

 

Este é um tema que atrai o interesse dos alunos?

Na Escola Superior de Biotecnologia, atrai sobretudo os alunos do European Master of Science in Sustainable Food Systems Engineering, Technology and Business. Tenho sempre turmas com um bom número de estudantes. Uma das coisas que mais gozo me dá é que depois alguns dos alunos voltam para fazer a tese de mestrado. Neste mestrado, os alunos podem escolher o país para a realização da sua tese. É sempre gratificante quando os alunos escolhem teses ligadas a esta disciplina. E até há alguns que depois ficam para o doutoramento.  

 

De que forma é que a docência e a investigação se vão alimentando uma à outra?

Não as separo. As aulas que eu dou são sempre muito práticas e relacionadas com a realidade. Fazemos visitas a empresas, contamos com a intervenção de especialistas de diferentes áreas e estudamos casos concretos da indústria. Como coordenadora do CINATE, tenho sempre muitos casos práticos para levar aos meus alunos.

 

“Somos um laboratório privado e mantemos até hoje esta posição, continuando a ser o laboratório de referência a nível nacional.”

 

Qual é a atividade do CINATE?

O CINATE - Laboratório de Análises e Ensaios a Alimentos e Embalagens – é uma estrutura da Escola Superior de Biotecnologia. Fazemos prestação de serviços e é daqui que surge grande parte do conhecimento prático que levo para os meus alunos. Temos uma atuação muito abrangente. Todos os dias lidamos com as necessidades das empresas, quer alimentares quer da embalagem nas suas várias vertentes, fazemos controlo de qualidade, apoiamos o diagnóstico e a resolução de problemas, desenvolvemos estudos de vida-útil e pequenos projetos de investigação.

 

O que é que distingue o CINATE?

Em 2004, fomos reconhecidos pelo Ministério da Agricultura como laboratório de referência na área dos materiais em contacto. Foi na altura em que saiu uma lei Europeia que determinava que cada Estado-membro tivesse um laboratório nacional de referência para esta área. Somos um laboratório privado e mantemos até hoje esta posição, continuando a ser o laboratório de referência a nível nacional. No CINATE, estamos em muitas frentes e isso é muito desafiante e, sem dúvida, que nos distingue, porque nos dá muita diversidade de conhecimentos e de competências. Atualmente, somos uma equipa de 16 pessoas. Uma equipa grande e muito empenhada.

 

Como é que gere a equipa no dia-a-dia?

Com muito trabalho e muita disciplina. Quase sempre há dias dedicados a projetos específicos, o que nos ajuda na organização do trabalho.

 

“Mergulhar é como meditar.”

 

O que é que gosta de fazer nos tempos livres?  

Faço muitas atividades. O meu problema é que gosto sempre de muita coisa. (risos)
Faço algum desporto. Jogo voleibol na praia duas vezes por semana, sempre que o tempo deixa. Também faço ginásio e mergulho de garrafa. Gosto muito de viajar.

 

O que procura conhecer nos mergulhos que faz?

Fascinam-me imenso os animais e as plantas. Aliás, sempre tive a mania do snorkeling e andava sempre para todo o lado com as barbatanas e máscara. Em 2015, aventurei-me num curso de mergulho. Mergulhar é como meditar.

 

Algum mergulho para recordar?

Na Austrália, mergulhar na Grande Barreira de Corais.

 

Última viagem?

Indonésia.

 

Próxima viagem?

Talvez Japão. Não pelo mergulho, embora vá aproveitar para isso também, mas pela cultura.

 

O que é que a move?

O compromisso que tenho com os que de alguma forma dependem de mim. Seja com as pessoas que integram a minha equipa no trabalho, seja com os investigadores e alunos que oriento, seja com a minha família. É esta responsabilidade e compromisso de estar lá para eles que me faz levantar da cama todos os dias.

 

 

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23-01-2025