Božidar Vlačić: “O conhecimento é um dos poucos recursos que não perde valor quando o partilhamos.”

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Božidar Vlačić é Professor Auxiliar da Católica Porto Business School e coordenador do Centro de Estudos em Gestão e Economia. Com 34 anos e nascido na antiga Jugoslávia, Božidar Vlačić vive em Portugal desde 2019. Desde 2018 é doutorado com distinção em Análise Económica e Estratégia Empresarial pela Universidade de Vigo, Universidade de Santiago e Universidade da Corunha (Espanha). Para ele, “aprender é uma necessidade” e “os valores são fundamentais”.

 

Quais são as suas principais memórias de infância?

Quando penso na minha infância, lembro-me de viajar muito, sempre com a família.  Venho da antiga Jugoslávia, por isso é um tipo de viagem diferente do que estamos agora habituados. Durante a minha infância, passei muito tempo com a minha avó e o meu avô. Gostava de assistir a jogos de basquetebol e havia um livro fantástico que o meu avô me deu, chamado Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Também joguei xadrez com ele. Boas memórias.

 

Durante os anos de ensino secundário, quais eram os seus sonhos profissionais? 

Cresci com os meus avós e ambos estavam ligados às áreas da Economia e dos Negócios por isso sabia que faria algo dentro do tema, só nunca pensei que seria professor. Comecei a trabalhar no setor do turismo, como era normal na minha cidade junto à praia. Foi a área onde trabalhei até iniciar o doutoramento.

 

Tornar-se professor foi inesperado...

Nem tinha a certeza de que me tornaria professor até começar a trabalhar na Católica. Muitas coisas contribuíram para que eu chegasse até aqui. Uma delas foi conhecer a minha mulher, que é portuguesa, e, claro, terminar o doutoramento em Espanha. Quando terminei o doutoramento, nunca pensei em desistir da investigação, porque a curiosidade nunca acaba.

 

“Desde o início, senti-me muito acolhido pela Católica Porto Business School.”

 

O que o fascina nesta área?

Desde muito jovem que sou fascinado por processos, como algo funciona a nível organizacional e descobrir como atravessamos fronteiras porque foi isso que me trouxe até aqui. Depois, quando mudei para a indústria do turismo, deparei-me com hóspedes estrangeiros, línguas novas e exposição a diferentes culturas de uma forma muito positiva, o que realmente despertou o meu interesse e me fez estudar negócios internacionais.
Tenho por hábito combinar esse tipo de conhecimento com sistemas de informação e desenvolvimento tecnológico. A minha investigação centra-se na forma como as empresas atravessam fronteiras, quais são os melhores padrões e quais as abordagens que lhes permitem permanecer competitivas através de muitos aspetos diferentes, incluindo serem inovadoras e resilientes.

 

Quando veio para Portugal e para a UCP?

Conheci a minha mulher e decidi mudar-me para Portugal. Só um ano depois comecei a trabalhar na UCP. Houve uma chamada internacional para professores auxiliares e então inscrevi-me. Lembrar-me-ei para sempre do processo de uma forma muito positiva. Desde o início senti-me muito acolhido pela Católica Porto Business School.

 

É coordenador do CEGE. Sente que é um desafio?

Há bastante para fazer. Há muitas coisas boas que estamos a desenvolver, mas nunca as considerei um desafio porque, para mim, um desafio é quando acordamos e adormecemos a pensar na mesma coisa.

 

E quantos investigadores são?

Neste momento, temos 38 e aspiramos crescer.

 

“Algo que também distingue o centro é a nossa visão de transformar a investigação num ativo impactante.”

 

Quais são as principais áreas de pesquisa?

Temos três áreas-chave - Mercados e Política, Gestão e Desempenho de Serviços e Ética e Sustentabilidade. Os investigadores estão predominantemente afiliados a uma dessas áreas, no entanto, isso não os impede de trabalhar em qualquer outra ou de colaborar entre si, uma vez que o centro foi criado de baixo para cima. Apoiamos colegas que desejam colaborar e também apoiamos os colegas a abraçar uma colaboração interdisciplinar com outros centros.

 

O que distingue o CEGE?

Dado que o centro existe há mais de 20 anos, as áreas de especialização evoluíram devido à sua natureza dinâmica. E penso que a nossa especialização nas três áreas principais mencionadas acima fala por si - as contribuições dos membros do CEGE são reconhecidas mundialmente. Algo que também distingue o centro é a nossa visão de transformar a investigação num ativo impactante. Tentamos que as atividades realizadas tenham a investigação como componente principal, mas ligamo-las à aplicação para que, sempre que possível, partilhemos as grandes coisas que fazemos para além dos corredores da academia.

 

Como é que os alunos do CPBS se relacionam com o CEGE? 

Temos vários mecanismos à nossa disposição. Um deles é, sem dúvida, o programa de mentoria CEGE que iniciámos. Porém, caso os alunos demonstrem interesses específicos, o CEGE tenta encontrar a melhor correspondência entre o aluno e os projetos em curso, onde tenham oportunidades de colaborar em diferentes capacidades. Também organizamos vários eventos, alguns deles com mais de 40 participantes, incluindo estudantes.

 

Porque são hoje as universidades tão importantes para o desenvolvimento das sociedades? 

Enquanto as universidades, na minha opinião, se concentrarem em coisas importantes (promover o conhecimento e transferir conhecimento), a sua relevância será mantida. No entanto, acho que se elas abandonarem qualquer um desses dois, o que espero que nunca aconteça, começaremos realmente a questionar se precisamos delas. Penso que se as universidades estiverem focadas no progresso do conhecimento, ultrapassando as fronteiras do que sabemos e, ao mesmo tempo, transferindo-o para as próximas gerações, então o seu papel é fundamental na sociedade porque o conhecimento é um dos poucos recursos que não perde valor quando o partilhamos.

 

A universidade mudou a sua vida?

Sempre gostei muito de aprender e saber mais. Quando fiz uma licenciatura pensei “OK, aprendi o básico, mas quero aprender algo mais específico”. Por isso, fiz o mestrado em sistemas de informação e terminei-o com especialização em negócio internacional. Ao concluir o mestrado, embarquei na jornada do doutoramento, onde me apaixonei pela investigação.

 

“Para mim, os valores, principalmente na nossa universidade, são fundamentais.”

 

Considera que, na sua vida, aprender é um privilégio?

Aprender é uma necessidade porque existem muitos tipos diferentes de aprendizagem. Muitas vezes penso nas coisas que aprendi e que têm muito pouco a ver diretamente com o que estou a investigar, como basquetebol ou culinária.

 

O que mais gosta em Portugal?

Primeiro, a minha esposa (risos). Em Portugal existe uma cultura familiar, muito parecida com aquela de onde venho. Para mim, os valores, principalmente na nossa universidade, são fundamentais.

 

Sente a falta de Montenegro? 

Vou muito a Montenegro porque encontro forças na vida através da minha família. E a família é muito, muito importante. Vou a Montenegro sempre que possível, a cada dois ou três meses.

 

Por que deveríamos visitar Montenegro? O que é inesquecível e imperdível?

Acho que algo que gosto muito é a natureza selvagem. No mesmo dia podemos esquiar e praticar snowboard no norte ou nadar em água quente no sul. O país também bastante acessível, com várias ligações que nos permitem ir de norte a sul em apenas duas horas. Acho que a natureza e todas as coisas bonitas que esta oferece, aliadas à gastronomia, tornam a estadia muito agradável. As pessoas podem ficar em Montenegro, mas também podem usá-lo como ponto de partida para explorar os países à volta, como a Croácia, a Albánia, a Sérvia ou a Bósnia e Herzegovina.

 

É difícil aprender português?

Morei em Espanha desde 2015 até vir para Portugal. Especificamente, morei em Vigo onde tive a oportunidade de aprender galego. O meu sogro dizia que ficamos para sempre marcados pelo espanhol e pelo galego. Acho que nunca falarei português perfeito. Porém, atualmente conheço mais palavras em português do que em espanhol. Costumo combinar as duas línguas, mas sou sincero: nunca fui a uma aula de português para estrangeiros (risos).

 

 

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19-02-2025