"Alabama got me so upset"

Educação e Psicologia
"Alabama got me so upset"
Quarta-feira, 31 de Janeiro de 2024 in Observador

Artigo de opinião de Vânia Sousa Lima, docente da Faculdade de Educação e Psicologia.
Seis décadas transcorrem entre a primeira interpretação ao vivo de Mississipi Goddam pela pujante Nina Simone e a execução da pena de morte de Kenneth Smith em Alabama.  Mais do que uma canção de protesto, o tema transformou-se num ícone do Movimento dos Direitos Civis e da luta contra a discriminação racial na América dos anos 60, mantendo não apenas inalterada a sua actualidade, como ampliada a sua relevância, globalmente. Nina Simone estava de tal ciente ao referir em várias versões (de que a do concerto de tributo a Nat King Cole em 1985 é exemplo) não apenas Tennessee, mas “The all world is making me lose my rest”.
Na madrugada (hora portuguesa) de 26 de Janeiro de 2024, “Alabama got me so upset”. O foco no gáudio em torno da inovação do método utilizado para a execução de Keneth Smith é o requinte de malvadez que coroa o que a Amnistia Internacional reiteradamente defende ser (a pena de morte) o inequívoco desrespeito pelos Direitos Humanos, em consonância com o postulado pelo Alto-Comissariado para os Direitos Humanos da ONU. Considerada por organismos internacionais e associações de defesa dos direitos humanos uma prática de tortura (como o será a nível psicológico o “corredor da morte” – releia-se a propósito o clássico “Na casa da morte”, de Edgar Smith), o recurso a nitrogénio como método surge como alternativa à crescente dificuldade de acesso a fármacos indutores de morte, no que se assumiria no dito popular “quem não tem cão, caça com gato”, ou “o fim (no singular) justifica os meios”. Algo que deveria, em uníssono com Nina Simone, “make one’s lose the rest” e indignadamente perguntar “… Can’t you see it? Can’t you feel it?”

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