"Aprendizes de feiticeiro"

Álvaro Nascimento, docente da Católica Porto Business School. 
Em vários momentos o desenrolar dos acontecimentos me traz à memória as linhas de abertura do livro "A Tale of Two Cilies", de Charles Dickens. Esta notícia da Bloomberg é uma dessas ocasiões em que sinto o espírito balancear, entre o que é - ou parece ser - bom e mau. A tributação extraordinária - windfall tax - que recentemente tem ocupado os fóruns de discussão, a propósito das indústrias que aparentam beneficiar da situação conjuntural atual temos ingredientes necessários para (aprendizes) de feiticeiros. A tentação governamental de intervir é apresentada- sábia e acertadamente - na procura de um justo equilíbrio em momentos adversos em que é preciso distribuir o sacrifício. Até aqui, nada a apontar. 
O problema surge, porém, quando os sistemas políticos e económicos se tornam incongruentes. Quando as fragilidades sociais latentes e a preocupação com convulsões dominam o sentido das decisões governamentais, a resposta parece acalmar os espíritos, porque propõe uma redistribuição mais equitativa. Contudo, o foco no imediato faz com que qualquer fenómeno socialmente negativo - mais ou menos transitório -possa resultar numa intervenção e, logo, num aumento do risco dos negócios. Também aqui, é avida.

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