"O declínio da cultura do mérito"

Artigo de opinião por Rui Soucasaux Sousa, docente da Católica Porto Business School
Existem visões diferentes nas sociedades desenvolvidas sobre o equilíbrio desejável entre fatores individuais e sistémicos na formação dos rendimentos das pessoas e empresas. Em geral, o ponto de equilíbrio escolhido está associado a posições políticas mais de direita ou de esquerda da sociedade e da economia. A primeira visão privilegia mérito individual, enquanto a segunda enfatiza o igualitarismo, atribuindo apoios proativos a certos grupos sociais e económicos afetados negativamente por fatores de contexto, como objetivo de aproximação dos seus rendimentos face a outros grupos. Não obstante estas diferenças, o ponto de equilíbrio tende a ocorrer dentro de padrões moderados de economias de mercado e que têm garantido a prosperidade das sociedades ocidentais.
Apesar disto, e em resultado de múltiplas decisões tomadas nos últimos anos, arriscaria a dizer que Portugal está a ultrapassar as fronteiras moderadas do igualitarismo, com o risco de ser atirado para situações semelhantes a países com elevados níveis de pobreza e baixos níveis de desenvolvimento económico. Estas decisões produzem já hoje efeitos negativos na sociedade e na economia que demorarão muito tempo a reverter, mesmo que haja para isso vontade política.

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