Francisca Guedes de Oliveira: "E amanhã?"

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Francisca Guedes de Oliveira: "E amanhã?"
Quarta-feira, 13 de Janeiro de 2021 in Jornal Económico Online (O)

A grande dependência que a economia tem de fatores comportamentais que por sua vez dependem das expetativas dos agentes económicos, geram uma enorme incerteza na sua previsão. A inclusão de tendências passadas nos modelos de análise pode ajudar a diminuir essa incerteza, mas no atual contexto é difícil encontrar um percurso passado que sirva de modelo.

Por isso, prever como vai evoluir a economia nos próximos dois ou três anos é um exercício particularmente difícil e as previsões das instituições económicas, para 2021, revelam essa dificuldade, com a OCDE a prever um crescimento do PIB de 1,7% e o FMI de 6,5%.

Numa tese de mestrado que orientei recentemente, a análise de dados históricos permitiu concluir que as previsões dos organismos nacionais tendiam a ser mais corretas. Olhemos então para as previsões do Governo e do Banco de Portugal (BdP). O BdP, no boletim económico de dezembro, prevê para 2020 uma recessão de -8,1%, corrigindo a previsão de -9,5% feita antes do verão.

Esse valor é ligeiramente mais otimista, mas próximo da previsão do governo (-8,5%). Para 2021, o BdP é mais contido que o Governo ao prever um crescimento do PIB de 3,9% (1,5 pontos abaixo). Já na taxa de desemprego o BdP aponta para 8,8% em 2021, e o Governo, de novo mais otimista, crê que o valor não ultrapassará os 8,2%.

Convém lembrar que as previsões do governo são as do OE e que as do BdP já incorporam informação do terceiro trimestre. Ainda assim, duas instituições nacionais com acesso a informação semelhante apresentam discrepâncias relevantes. A verdade é que a recuperação dependerá, como nunca, de variáveis não económicas (à cabeça, da resolução da pandemia) mas também da forma como reagiremos quando a normalidade voltar.

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