"A Mão Visível: Uma Utopia Empresarial"

Business School
"A Mão Visível: Uma Utopia Empresarial"
Segunda-feira, 22 de Novembro de 2021 in Negócios online

Álvaro Nascimento, docente da Católica Porto Business School
É como se os empregados negociassem o seu contrato de trabalho com os capitalistas, estes exageradamente considerados os verdadeiros donos das empresas. Admiti-lo é esquecer a natureza antropológica da empresa e o seu papel para a sociedade, ignorando que é um veículo social — constituído voluntariamente — com o objetivo de criar valor, isto é, conseguir produzir o máximo como mínimo de esforço. Concorrem vários recursos, oferecidos por igual número de interessados, de entre os quais os trabalhadores são uma das constituintes. 
Esta perspetiva social encerra uma visão funcional para a empresa, no sentido que a mesma sobrevive enquanto a sua atividade é, falando em abstrato, considerada útil para toda a comunidade — ou, mais pragmaticamente, por um número de indivíduos suficiente para o efeito. A partir do momento que esta essencialidade é questionada, a sobrevivência fica ameaçada e a empresa não tem percurso alternativo, que não seja o caminho da dissolução. É, pois, lógico que se pergunte: em que circunstâncias se anuncia o julgamento final? 
Há duas situações que sinalizam dificuldades: a primeira é querer distribuir aquilo que não se tem (tal como no adágio popular, casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão); e a segunda, quando as partes não se estão de acordo quanto à repartição (na mesma senda, a galinha da vizinha é mais gorda que a minha). Menos prosaicamente, isto significa que a empresa não gera excedente suficiente para pagar rendimentos, ou os resultados da repartição não são justos relativamente ao esforço de cada um. 
Estas são duas tensões de que padecem as empresas em Portugal, salvaguardadas as honrosas exceções. No primeiro caso, são anormalmente baixos os níveis de produtividade com que aparecemos nas comparações internacionais — ie, a parca utilidade das empresas para a sociedade -e, concomitantemente, reduzido o valor para distribuir. No segundo caso, a repartição resulta da negociação do possível, não do desejável, e a insatisfação com a solução é apenas o espelho do fraco compromisso de todas as partes para com o futuro da empresa. Um futuro melhor exige resolver ambos os problemas.

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