Marisa Tavares: "Não existem modelos universais"

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Marisa Tavares: "Não existem modelos universais"
Segunda-feira, 1 de Março de 2021 in Jornal Económico Online (O)

Já atingimos o pico da curva? Quando regressaremos à normalidade? Muitos modelos matemáticos têm sido usados para procurar respostas e fazer previsões e muitas têm sido as evidências de que os modelos falham. Claro que devemos utilizar toda a informação disponível (estatística e não só) para tomar decisões informadas.

No entanto, não devemos esperar que os modelos nos deem respostas que não nos podem dar. Na ciência económica, o tema da modelização matemática do comportamento humano é alvo de debate e, em artigo anterior, abordei os riscos enfrentados pela economia ao mimetizar as ciências exatas.

O contexto económico, social e institucional que difere no tempo e no espaço é fundamental no estudo da economia. A ilustração que hoje vos trago reúne argumentos de dois prémios Nobel da Economia: Amartya Sen e James Heckman. A abordagem de Sen argumenta que a promoção do bem-estar passa por capacitar as pessoas para atingirem os objetivos que valorizam nas suas vidas. No entanto, Heckman critica esta abordagem argumentando que nela falta um modelo que explique as preferências das pessoas e, consequentemente, a sua utilização só pode ser feita num contexto específico e até dentro de um determinado quadro ético-moral.

Para ultrapassar esta lacuna, Heckman sugere um modelo em que as preferências resultam das habilidades e conhecimentos que as pessoas vão acumulando ao longo das suas vidas o que, alegadamente, evitaria a imposição de quadros ético-morais específicos. As aprendizagens seriam os blocos de legos com que cada pessoa vai construindo as suas preferências. O problema nesta argumentação é que as escolhas sobre as aprendizagens também são determinadas pelo contexto económico, social e institucional.

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