"Sobre legitimidade ou o dilema da mulher de César"

Católica no Porto
"Sobre legitimidade ou o dilema da mulher de César"
Quarta-feira, 27 de Abril de 2022 in Diário de Notícias Online

Artigo de opinião de Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa.
Governar no tempo da sociedade de informação não é factualmente mais exigente do que no passado, mas sê-lo-á certamente na perceção pública da ação do governante. E ainda bem. Colocando o Governo na posição simbólica de César, o governante assume na verdade o lugar da sua mulher, a quem não basta ser honesta.
Na longue durée da sua controversa história, a construção e afirmação do Estado de Direito constitui uma das mais relevantes conquistas da Europa. Tal acontece, porque nele se refletem os valores basilares que estruturam as nossas sociedades: a defesa da dignidade, a liberdade, a igualdade perante a lei, a solidariedade social, afinal o direito a ter direitos. O Estado de Direito é o garante da nossa democracia. Não é, portanto, um simples edifício de ordem administrativa e burocrática, ancorado num normativo legal aprovado pelos representantes dos cidadãos, e apoiado numa máquina burocrática de funcionários que o aplica. O Estado de Direito é uma instituição que define o modo de viver nas sociedades democráticas. Mais do que uma estrutura técnica que define o que é legal, é uma plataforma sociocultural que suporta o nosso modo de vida.

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