Bárbara Medeiros: “O desporto traz muita maturidade emocional.”

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Bárbara Medeiros tem 22 anos, é licenciada em Enfermagem pela Escola de Enfermagem (Porto), da Universidade Católica Portuguesa no Porto e é atleta de corrida de velocidade. Durante a licenciatura, deixou-se fascinar pela geriatria e cuidados paliativos, área onde acredita que tem “um grande contributo a dar”. Em 2024, sagrou-se vice-campeã de Atletismo Universitário em Pista Coberta, tendo, por isso, trazido uma vitória para a Universidade Católica. No futuro? Conciliar o Atletismo e a Enfermagem. Próximo desafio? Treinar para a qualificação nos Jogos Olímpicos em Los Angeles, em 2028.

 

Qual é o seu recorde?

400 metros em 55,98 segundos.

 

Em 2024, sagrou-se vice-campeã de Atletismo Universitário em Pista Coberta. Que importância teve para si?

Foi especial para mim, porque tive um semestre difícil e exigente. Também teve um peso especial, porque estava a representar a Universidade Católica. Senti uma responsabilidade grande. Uma responsabilidade positiva!

 

É licenciada em Enfermagem pela Católica. Porquê estudar Enfermagem?

Sempre quis algo relacionado com saúde, principalmente pelo contacto e pelo serviço às pessoas. Sempre me cativou muito o facto de poder ajudar as pessoas. Cheguei a estar indecisa entre Enfermagem e Fisioterapia por causa da parte ligada ao desporto, mas depois percebi que a Enfermagem tinha um espetro muito mais amplo e que também pode estar ligada ao desporto. Quando entrei para a licenciatura, tive mesmo a certeza que era isto que eu queria. 

 

O que é que mais a marcou nos anos da licenciatura em Enfermagem na Católica?

O que eu mais gostei no curso foi da grande componente prática. Desde o primeiro ano que já temos prática clínica e isso é fundamental. Dá-nos uma perspetiva da Enfermagem completamente diferente. Ganhamos uma destreza e autonomia muito grandes. Adorei estes anos na Universidade Católica. É um ambiente muito familiar e íntimo. Existe uma relação muito próxima com os professores e estão sempre a exigir o melhor de nós. Sempre me senti desafiada a fazer melhor.

 

“Um atleta é muito mais a parte mental do que parte física.”

 

O que é que mais a surpreendeu na Enfermagem?

Quando entrei para a Licenciatura achava que queria ser enfermeira parteira, mas estava enganada (risos). A área que mais me surpreendeu e com a qual quero trabalhar é a de geriatria e cuidados paliativos. Foi surpreendente, porque não fazia ideia de que esta área me ia realizar tanto e não conhecia a minha capacidade de comunicar tão bem com as pessoas mais idosas. Consigo chegar até elas de uma forma especial e essa descoberta foi muito importante.

 

O que é que a fascina nesta área?

Quando as pessoas envelhecem, há sempre muitos preconceitos associados. Seja dos próprios, seja das pessoas à volta. Percebi que tenho um grande contributo a dar. Mesmo quando alguém está acamado e totalmente dependente, acredito que é possível sermos presentes e tornarmos digna a vida dessa pessoa. A ajuda da Enfermagem nestas situações pode modificar totalmente a vida de uma pessoa e mesmo com muito esforço as pessoas agradecem e dão-nos um sorriso. É a melhor recompensa que posso receber do meu trabalho.

 

Terminou recentemente o seu estágio final do curso e já é Enfermeira. Como foi finalizar este percurso?

Termino com uma sensação completamente recompensadora. Sinto-me agradecida e orgulhosa de tudo o que eu aprendi, de tudo o que cresci nestes 4 anos. Também foram anos muito exigentes, por causa da minha vida de atleta.

 

Como é que foi conciliar os estudos com o desporto?

Não digo que não foi difícil, porque foi. Tive algumas dificuldades, mas fui conseguindo ultrapassar, até porque sempre me senti muito apoiada. Também foi complicado ter de abdicar de uma vivência académica mais animada. Tive de fazer alguns sacrifícios a esse nível, até porque se assim não fosse não tinha tempo para dormir e o sono é muito importante para o sucesso de um atleta.

 

Há quantos anos é atleta federada?

Tenho 5 anos de atletismo federado. Durante a minha vida já tinha praticado muitos desportos diferentes, mas nunca tinha ligado à corrida. Até que conheci o meu treinador, ele viu o meu potencial e isso mudou a minha vida por completo. Atualmente, faço corrida de velocidade de 400 metros e barreiras em pista.

 

“Quero ser profissional de atletismo, mas sem nunca esquecer a Enfermagem.”

 

Como é a sua rotina de treino e em que consiste?

Tenho um ritmo muito acelerado. Treino duas vezes por dia. Normalmente, de manhã, treino pelas 9h00. Depois venho para casa almoçar e fazer uma sesta de uma hora, que é uma prática quase obrigatória nos atletas. Depois volto a treinar pelas 17h00. Aos fins-de-semana, só treino de manhã. Faço três tipos de treino. Um deles é para treinar a velocidade, outro treino é o de ginásio para fazer o trabalho de força e ainda faço o treino sofredor que é quando fazemos corridas a alta velocidade e muito repetidamente com o objetivo de ficarmos sem oxigénio nos músculos para o corpo se habituar e ganhar resistência.

 

Qual é o seu próximo objetivo traçado?

A partir de setembro, vou começar um ciclo olímpico, ou seja, vou começar a treinar por um período de quatro anos para ser atleta olímpica em 2028. Quero estar nos Jogos Olímpicos em Los Angeles, em 2028

 

Em que é que se pensa quando se está a correr a alta velocidade?

Um atleta é muito mais a parte mental do que parte física. As pessoas não acreditam, mas é precisamente assim. O meu treinador trabalha muito isso comigo. Antes de eu começar a correr, eu idealizo todas as fases da corrida: o que é que eu vou sentir ali, o que é que vou ter de fazer naquela fase. Quando corro parece que oiço a voz do meu treinador a dizer “tens de fazer isto” e “tens de fazer aquilo”. É importante termos sempre na cabeça uma voz motivadora e reconfortante que nos diga “Tu és capaz”.

 

Como pretende conciliar o Atletismo com a Enfermagem?

Quero ser profissional de atletismo, mas sem nunca esquecer a Enfermagem, porque é essencial para mim. Quero apostar na área em part-time, mas conseguir conciliar com o objetivo que tracei para o atletismo.

 

“Quando venço gosto de festejar, mas não fico demasiado presa à última vitória.”

 

Que competências é que o desporto traz para vida de uma pessoa?

O desporto traz muita maturidade emocional. Aliás, no meu último estágio do curso, que me correu muito bem, uma professora disse-me que se notava mesmo que eu era uma atleta profissional, ou seja, que conseguia ligar com as situações mais complexas e que tinha o discernimento certo para ir à procura de soluções.

 

Como é que gere as vitórias?

Eu adoro ganhar, adoro ser a melhor. E quando venço gosto de festejar, mas não fico demasiado presa à última vitória. No dia seguinte, já estamos a pensar na próxima vitória e no próximo tempo que queremos atingir.

 

pt
21-03-2024