Rui Soucasaux Sousa: "O relvado do vizinho parece sempre mais verde?"

Business School
Rui Soucasaux Sousa: "O relvado do vizinho parece sempre mais verde?"
Terça-feira, 20 de Julho de 2021 in Negócios

O relvado do vizinho parece sempre mais verde? Famoso provérbio, de origem anglo-saxónica, traduz o fenómeno comum de as pessoas serem mais exigentes na avaliação da sua realidade próxima do que da realidade mais distante. Até recentemente, estava convencido que este ditado era aplicável a Portugal na comparação com países vizinhos, mas os últimos tempos convenceram-me do contrário.

A razão parece ser que cada vez menos portugueses residentes em Portugal conseguem ver os relvados dos países vizinhos e são pouco atentos na sua visão ao perto. Este fenómeno tem como consequência uma preocupante falta de ambição na sociedade e economia portuguesas, e a perceção de que se as coisas não piorarem já é bom.

Nos intervalos entre diversas recessões, a economia portuguesa tem crescido de forma anémica, e isso é considerado suficiente. As pessoas que não conseguem ver a pujança da relva dos vizinhos, sentem-se acomodadas com as suas vidas e satisfazem-se por estas não terem piorado.

No entanto, os nossos vizinhos têm melhorado significativamente o seu nível de vida e o fosso entre Portugal e os demais países europeus tem aumentado. Internamente, o nível de exigência é nivelado por baixo, quer no setor público, quer no setor privado. Por exemplo, existe a perceção de que temos serviços públicos com elevado grau de digitalização, mas a qualidade destes serviços está longe do que a maioria dos clientes de serviços não-estatais consideraria aceitável.

Alguns serviços de "utilities" desesperam os clientes com algumas das suas práticas, mas as alternativas são escassas. A seleção nacional e o Cristiano Ronaldo estão acima da crítica, quando foi notório o pobre desempenho futebolístico de ambos no Euro 2020.

Esta situação é agravada por termos custos com estes serviços (em percentagem da riqueza do país) equivalentes ou maiores aos dos outros países. No caso dos serviços estatais, estes custos traduzem-se em impostos, presentes e futuros. Como ultrapassar esta situação e criar maior ambição e exigência para a sociedade e economia?

Para avaliar o relvado do vizinho, não basta olhar por cima da cerca ou ir de férias para lá. E preciso unia imersão nesses países, na minha experiência, de pelo menos seis meses. Os nossos emigrantes conseguem ter esta experiência e são cada vez mais os que descartam um regresso profissional definitivo.

A nova geração, que teve experiências Erasmus e similares, tem também já esta visão e muitos tornam-se emigrantes após a conclusão dos seus cursos. Em geral, o incremento do contacto próximo dos portugueses com as realidades de outros paíSes será um bom caminho para criar exigência interna - desde que eles permaneçam em Portugal.

Para avaliar melhor o nosso relvado, é necessário um sistema de ensino de boa qualidade e independente, mais ainda com a recente tendência para o ensino estatal se alargar a questões de cidadania. A comunicação social deve desempenhar também um papel importante na sua função informativa.

Nota: O artigo está disponível na íntegra para assinantes premium do Jornal de Negócios Online.

pt