João Mendes Pinto: “Olhar o mundo: é isto que eu procuro através do Cinema.”

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João Mendes Pinto tem 23 anos, é Amarantino e é estudante finalista da Licenciatura em Cinema, da Escola das Artes, da Universidade Católica. Por volta dos 15 anos, descobriu a importância do Cinema na sua vida e até hoje nunca mais parou. O objetivo? Ser argumentista e realizador. Venceu na categoria “documentário” o 1º lugar dos Prémios Sophia Estudante. “Sou um jovem bucólico”, afirma. E nos tempos livres? Karaoke e ver o Amarante, o seu clube do coração.

 

Como é que o Cinema apareceu na sua vida?

Creio que não há nenhum motivo aparente. Por volta dos 15 anos, comecei a descobrir um ou outro filme e depois comecei a consumir cinema em massa. Via cerca de 4 a 5 filmes por dia.

 

Integra a primeira turma da Licenciatura em Cinema da Escola das Artes. Porquê arriscar na Católica?

Segui o meu instinto. Já conhecia a Católica e a licenciatura em Som e Imagem e foi por aí que também tomei conhecimento que ia abrir uma nova licenciatura. A reputação que a Católica tem fez-me confiar que era a escolha certa. Acreditei que se fosse para abrir um novo curso que ia haver a garantia da qualidade que já lhe era conhecida. E vou continuar, já estou matriculado no Mestrado em Cinema, aqui na Escola das Artes.

 

O que é que mais destaca destes seus 3 anos de licenciatura?

Sem dúvida que é o ambiente que se vive na Escola das Artes e todas as amizades que fiz. Vive-se um ambiente muito próximo. Sinto-me muito bem aqui. Outro elemento que destaco é a forma como os projetos finais são acompanhados. Este ano pelo João Canijo. É uma oportunidade excelente estar a trabalhar num filme e saber que está a ser acompanhado e que tem muitas hipóteses de evoluir.

 

Qual é a importância do Cinema?

O cinema, tal como outra forma de Arte qualquer, reflete a forma como vemos o mundo. Acredito que é isso que distingue os bons realizadores dos que são verdadeiros mestres. Havia um crítico americano que dizia que, nos filmes dos grandes cineastas, conseguimos perceber, logo no primeiro minuto, como é que eles olham o mundo. É isto que eu procuro através do cinema: olhar o mundo.

 

Qual é o poder da Arte?

A Arte traz educação. A partir do momento em que eu consigo mostrar aos outros através da Arte a forma como eu vejo o mundo, os outros também vão refletir sobre a forma como eles próprios olham o mundo. Concretamente no caso do Cinema, não acho que um filme vá mudar o mundo ou que vá trazer respostas para os grandes problemas, mas vai conseguir uma coisa mais importante ainda, que é mudar a forma como as pessoas veem as coisas e isso, a longo prazo, pode ter um grande impacto.

 

“Gosto de trabalhar a nostalgia e a apatia perante o mundo à nossa volta.”

 

O que é que aprendeu sobre o Cinema que não conhecia antes de entrar para a Universidade?

Aprendi que em Cinema é preciso saber estar, é preciso saber trabalhar em conjunto. Aprendi que o cinema é uma arte coletiva. Ninguém faz cinema sozinho. A única forma de fazer as coisas é com outras pessoas.

 

“Enquanto houver ovelhas” é o nome do seu documentário que venceu o 1º lugar dos Prémios Sophia Estudante na categoria “Melhor Documentário”. Em que é que consiste o documentário?

O documentário segue a vida quotidiana de um casal de Seia, na Serra da Estrela. Ele é pastor de ovelhas bordaleiras e ela é queijeira. É um olhar contemplativo e poético sobre esta arte que está em vias de extinção.

 

“A cultura não é só arte.”

 

Que temas é que gosta de explorar no cinema que vê e nas suas criações?

Gosto de trabalhar a nostalgia e a apatia perante o mundo à nossa volta. Gosto que haja tempo para respirar. Sou um jovem bucólico. Estamos neste momento a trabalhar no projeto final da licenciatura e estamos, precisamente, a trabalhar estes temas. Estamos em fase de pós-produção. É a história de uma mulher trabalhadora da Segurança Social que vai todos os dias a uma dancetaria no Porto. Vai ser exibido no Panorama.

 

Que opinião tem acerca da dinâmica, em Portugal, entre a sociedade e a Cultura?

Agostinho da Silva dizia que a Cultura começa na terra. A Cultura não é só arte. Arte também é Cultura, mas a Cultura não é só arte. É importante compreender isto. A Cultura é importante para a sociedade e claro que há falta de proximidade e ligação entre a sociedade e a Cultura. Uma vez mais, é essencial que a Cultura ocupe um lugar de destaque na educação das pessoas. E a Arte, também. Muitas vezes a Arte é olhada, única e exclusivamente, pela dimensão do entretenimento. No sistema de educação, priorizam-se determinadas disciplinas segundo métodos altamente competitivos e até lucrativos e descredibiliza-se a Cultura que, para mim, é aquilo que nos permite olhar, verdadeiramente, o mundo. Se nem nós vemos o mundo, então também não vai haver grande interesse em compreender como é que os outros o olham.

 

Um filme marcante?

Landscape in the mist, do Theo Angelopoulos. Lembro-me que vi esse filme e no primeiro plano pensei “O que é que é isto?”. Os filmes dele têm este lado muito hipnotizante. Fez-me muito pensar na forma como se estuda a composição de um plano, como é que se faz a câmara mexer com um propósito. É um filme pesadíssimo. É genial. Fiquei completamente abesbílico, acho que no fim tive de ir à varanda apanhar ar (risos).

 

“A terra de onde vimos também se reflete na nossa personalidade.”

 

O que é que gosta de fazer nos tempos livres para além de ver filmes?

Sou um frequentador assíduo de Karaokes. É um momento incrível de partilha, é uma coisa fenomenal. O futebol também me ocupa demasiado tempo.

 

Adepto de que clube?

Do Amarante, claro.

 

Agustina Bessa Luís dizia “Mas se é de Amarante…”

“um homem nunca parece de outro lugar”. Há pouco estávamos a falar de Cultura e, como é óbvio, a terra de onde vimos também se reflete na nossa personalidade. Uma amiga minha dizia que as pessoas de Amarante não conseguem estar uma hora sem falar de Amarante (risos). Sou de uma terra de pessoas que gostam verdadeiramente de ser de onde são.

 

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01-06-2023