A Tuna da Universidade Católica Portuguesa no Porto: uma manifestação por excelência do viver estudantil

Foi no dia 30 de março de 1990 que a Tuna da Universidade Católica no Porto (TUCP) foi fundada. Uma data memorável para muitos, mas de forma especial para os cerca de 200 tunos que se espalham por 30 gerações diferentes. Uma viagem que já soma 32 anos, mas que aspira a muitos mais. “Manifestação por excelência do viver estudantil”, a TUCP conjuga o rigor e a seriedade do traje académico, o respeito pela tradição, a alegria da juventude e a boémia dos estudantes.

 

“Existe a permanente e a constante necessidade de criar e inovar musicalmente” 

 

A famosa “Tuna de Padrecos”, como tantos gostam de lhe chamar, foi a terceira tuna a ser fundada na cidade do Porto e a sua constituição foi oficializada com o Monumental Batismo pelos padrinhos da Tuna de Engenharia da Universidade do Porto. Apesar de se tratar de um meio competitivo, onde todos lutam por um lugar no pódio, reina o profundo sentido de pertença e um imenso respeito e suporte interpares.

A TUCP é um dos cerca de 30 grupos académicos que a Universidade Católica no Porto acolhe no seu campus. É no Edifício Central que os podemos encontrar com mais frequência, embora os possamos ver a circular pelos diferentes edifícios. Onde estiverem é comum que se oiçam conhecidas melodias, inúmeros éférreás e muitos motivos para celebrar. 

 

 

Isabel Braga da Cruz, presidente da Católica no Porto, afirma que a “TUCP é um motivo de muito orgulho para a Católica, pelo papel que desempenha da promoção da cultura musical académica”. A presidente explica que “a sua capacidade de mobilização é imensa” e “que trabalham por uma missão de grande responsabilidade e de compromisso, ao nível da união e animação dos estudantes.”

Tiago Valente, responsável pelas relações públicas da TUCP, afirma que, enquanto grupo estudantil, se movem “pela música, pela aventura, pelo desafio, pela cultura portuguesa, pela tradição e, sempre, pela amizade.”

 

A Tuna de Padrecos

Um ano e meio após a fundação, aquando da primeira aparição no Festival Internacional de Tunas Académicas, um pouco em tom depreciativo, a TUCP foi apelidada de “Tuna de Padrecos”, pelo facto de pertencer à Universidade Católica. Por essa mesma altura, estava a ser criado o atual hino da tuna, que veio a intitular-se “Tuna de Padrecos”. É através deste hino que os membros da TUCP se apelidam de padrecos a si próprios, aliviando, desta forma, o tom pejorativo do epíteto, transformando-o, assim, em algo carinhoso e distinto.

Tiago Valente explica que “os “Padrecos” da Católica são agora distinguidos pelo seu brio e pela postura, mesmo em momentos de boémia” e que depressa este epíteto passou a ser encarado de forma positiva, fazendo, agora, parte da marca distintiva do grupo.

A TUCP também se diferencia pelo Traje “à padreco”, porque os caloiros não vestem o traje académico da maneira habitual.

Tudo nasce da vontade de que os caloiros fossem distinguidos e reconhecidos pelos restantes estudantes da Católica no Porto, mas, também, pelos membros de outras tunas. Assim surge o traje “à padreco”, no qual se encontra presente a analogia óbvia à Universidade Católica. Este pormenor no traje é percetível, mas é, no entanto, secreto. Os mais atentos irão reparar no detalhe que os distingue. Olhos bem abertos e atentos nos corredores do campus da Católica no Porto: vamos à caça dos caloiros da TUCP?

 

 

Cadetes, Caloiros, Tunos, Magíster

Quem é quem? Na hierarquia oficial da Tuna, a distinção é fácil de compreender, porque todos são tunos, embora haja um tuno com uma posição superior que é o Magíster. Este assume funções de liderança e de gestão de toda a atividade do grupo. Atualmente que ocupa este lugar é Afonso Pinheiro. É entre os tunos que, todos os anos, se elege uma direção que, para além do Magíster, também integra um Relações-Públicas, um Secretário, um Tesoureiro e um Diretor Musical. É também eleito em Assembleia Geral de Tunos um Conselho Fiscal e uma Mesa da Assembleia Geral.

Mas, afinal, quem são os cadetes e os caloiros? Estes fazem parte da chamada “hierarquia não oficial”. Sendo a Tuna aberta a todos os homens que frequentam a Universidade Católica Portuguesa no Porto, independentemente da faculdade, do curso, ano ou ciclo de estudos, qualquer pessoa que mostre vontade de entrar para o grupo é designado de cadete.  Esta posição permite que estes alunos usufruam dos ensaios, da sala da Tuna e dos convívios, mas não permite que integrem as atuações. Só passado algum tempo é que a Tuna vai determinar a passagem de cadetes a caloiros, através de uma audição.

Ter talento musical não é condição sine qua non para se fazer parte da tuna. Na audição, a que estão sujeitos todos os cadetes que querem passar a caloiros, são avaliados e muito valorizados o percurso e o esforço e não propriamente a técnica e o conhecimento musical.

 

“A TUCP é excelência no trabalho, no esforço e na dedicação.”

 

Depois de feitos caloiros, estes passam a poder atuar e a usufruir de tudo o que a Tuna tem para oferecer. No entanto, têm de continuar a provar que um dia merecem passar a Tunos, mostrando interesse, presença e esforço a nível musical.  Segundo Tiago Valente, “os caloiros não são membros da Tuna, mas antes uma população flutuante que vai variando, porque há alguns que sentem que não conseguem conciliar o tempo exigido e acabam por não querer continuar. E está tudo bem assim.”

“Mas uma vez Tuno, Tuno sempre”, garante.

 

 

Andar na estrada é a sina das tunas

E não é que o Padrecos colou mesmo? O festival organizado pela TUCP é, também, o “Padrecos”. Teve a sua primeira edição em 1998 e começou por se realizar bienalmente.O festival destaca-se pelo seu modelo de avaliação, pioneiro em Portugal, uma vez que o júri é composto por um membro de cada tuna. Neste modelo existe um Diretor Musical anfitrião que dirige e o “voto próprio” não é permitido por uma questão de imparcialidade.

 

 

Andar na estrada é a sina das tunas e, por isso, a TUCP já coleciona a presença em dezenas e dezenas de festivais ao longo dos anos, tendo ganho muitos prémios. Os festivais são o mais importante, pelo prestígio obtido e pela diversão. No presente mandato, que dura desde Outubro de 2022, a TUCP já regista um total de 82 atuações, metade delas a convite da Universidade, empresas e outros grupos académicos e a outra metade ao serviço de uma empresa com quem estabeleceram um contrato, atuando num navio cruzeiro no Cais da Afurada.

 

 

Ensaiar é condição essencial para uma tuna de sucesso. É nos ensaios que se afinam as vozes, que se criam novas sonoridades, que se descobrem novas letras. É, assim, entre o convívio e a partilha, que nascem alguns dos maiores sucessos como são exemplo o “Sempre que brilha o sol”, a “Maria Lisboa”, a “Desfolhada” ou até a “La cartera”. Mas a “Candeias de Saudade” é especial. Trata-se de um original escrito no início dos anos 90 com o intuito de representar o sentimento de saudade.

“Existe a permanente e a constante necessidade de criar e inovar musicalmente”, confessa o ensaiador da TUCP. Miguel Cristiano afirma, também, que encara a sua missão “com muita honra”, porque a “TUCP é um dos meus projetos de vida. Sabemos bem aquilo que representamos. A TUCP é excelência no trabalho, no esforço e na dedicação. Temos na nossa base de valores a amizade, o companheirismo e a camaradagem.”

 

“Um grupo essencialmente musical, mas não exclusivamente musical.”

 

“É uma honra poder ajudar a construir a TUCP ao longo destes anos todos. É um prazer ajudar gerações de Tunos e caloiros a fazerem mais e melhor. Isto sem nunca descurar a responsabilidade de, humildemente, estarmos a levar o nome da UCP pelo mundo fora”, conclui.

 

 

Uma exímia escola de pandeiretas e um álbum gravado num estábulo

Tocar pandeireta é uma arte e que o diga a TUCP que é conhecia pela “exímia escola de pandeiretas”. A forma elegante, fluida e graciosa como os seus membros interpretam o instrumento foi sendo replicada aqui e ali e, hoje, é uma das marcas que distingue a TUCP das demais.

Esta e outras capacidades, levaram-na, em 1993, a editar o seu primeiro CD, chamado “In Vino Virilitas”. Em plena época do vinil e da cassete, a TUCP inovou e lançou-se no mercado dos CD’s que, na época, era ainda do desconhecimento de muitos. Mas a inovação não ficou por aqui: o disco foi gravado num estábulo, porque era o que a TUCP conseguia suportar na altura.

 

“Somos todos da mesma família e procuramos sempre crescer como uma equipa.”

 

Um dos fundadores e o atual ensaiador confessa que o percurso da TUCP é “recheado de sucessos coletivos que trouxeram repercussões magníficas às vidas individuais de todos os elementos, porque uma experiência de tuna é muito enriquecedora em saberes e experiências.”

 

 

Um espaço para crescer em equipa

Não importa a idade de cada um, não interessa a geração a que cada um pertence: “somos todos da mesma família e procuramos sempre crescer como uma equipa”. A Tuna da Universidade Católica no Porto olha para o futuro com “ambição” e “compromisso” e é alicerçada nesta convicção que continuará alinhada com os seus objetivos e com a vontade de “ser um grupo essencialmente musical, mas não exclusivamente musical.” A TUCP gosta de deixar isto bem claro, porque “são muitas as marcas que a TUCP deixa na vida das pessoas”. As atividades e experiências que proporciona moldam os seus elementos para a sua vida profissional e pessoal: “cada um transporta para a sua vida experiências muito enriquecedoras, como a capacidade de relação, a gestão de tempo, o saber manter as contas em dia, o cuidar e valorizar o património, entre outras.”

 

“Uma vez Tuno, Tuno sempre”

 

A TUCP é, à semelhança dos restantes grupos académicos que habitam o campus, parte essencial do dinamismo e da energia que se vive na Católica no Porto. A TUCP é reflexo da identidade da Universidade Católica e é, também, motor de desafio, inovação e criação ao serviço da comunidade académica.

E para a TUCP não vai nada, nada, nada, nada? TUDO!

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23-11-2022