Mensagem da Reitora da Universidade Católica Portuguesa

Cara comunidade,

Iniciamos por estes dias, a quarta semana de suspensão de aulas presenciais na UCP. As causas para esta situação singular nos 53 anos de vida da universidade são conhecidas, se bem que extraordinárias. E é também em momentos como este que a força da instituição se manifesta.

Respondendo ao contexto pandémico, a universidade teve oportunidade de demonstrar o que melhor sabe fazer: encontrar soluções para resolver problemas, ao serviço das necessidades da sua comunidade de estudantes, ao serviço do país. Desde logo, na transformação tecnológica e metodológica para permitir a continuidade de um serviço de ensino de elevada qualidade, mas também na adoção de medidas de proteção profilática dos estudantes, docentes e colaboradores, e finalmente no contributo e colaboração com as autoridades no combate à pandemia. Privilegiámos a ação, em vez de simplesmente reagir. E continuamos a fazê-lo na lógica de serviço que preside à missão da Universidade Católica.

Na homilia de Domingo de Ramos, o Magno Chanceler da UCP, D. Manuel Clemente recordava-nos que esta Semana Santa especial e diferente espelha um momento de alguma “deceção (...) não podendo já contar com o que contávamos, no que diz respeito a tempos e lugares previstos. Com receios e cautelas, por nós e pelos nossos.” Mas este é também um momento de esperança e de conversão, que se torna evidente, como salienta D. Manuel, nas formas diferentes e criativas em que o nosso serviço se exerce, numa “preocupação ativa” que se manifesta em iniciativas concretas e numa “aplicação redobrada”.  Na Católica, esta aplicação exprime-se igualmente num compromisso de liderança, assente no empenhamento ativo na manutenção da qualidade do serviço prestado, na responsabilidade para com a estabilidade laboral dos docentes e colaboradores e no comprometimento para com uma gestão sustentável da instituição.

Assim, 24 horas após a suspensão das aulas presenciais nos campi da universidade, iniciou-se a progressiva transferência para a lecionação online, que tem vindo a funcionar em pleno com suporte em plataformas diversas desde 16 de março. De forma estruturada, as unidades académicas geriram o processo de mudança com o apoio notável das Direções de IT e o empenhamento dos professores. Os serviços de apoio transferiram-se para sistema remoto e continuámos a laborar. Tal foi possível, porque atempadamente se tomaram decisões e se investiu na segurança e nas infraestruturas tecnológicas. Na Católica, somos todos agora a geração 4.0!

Entendemos que neste momento crítico, a aplicação redobrada, se mede também pela intervenção na comunidade com base no conhecimento. As áreas de saúde mobilizaram-se na recolha e canalização de materiais urgentemente necessários ao SNS, de máscaras a meios de diagnóstico. No Centro Regional do Porto, o CBQF associou-se ao esforço de apoio ao Hospital de São João produzindo mais de 25.000 tubos para apoiar a amostragem do vírus SARS-CoV-2, e, por impressão 3D, produzindo mais de 100 viseiras. Em Lisboa, os estudantes de Enfermagem estão a reforçar a linha de apoio SNS24, em colaboração com a ARSLVRT e, em Viseu, a Faculdade de Medicina Dentária reforça o Centro Hospitalar de Viseu no fornecimento de cuidados de saúde oral a doentes crónicos (oncologia, nefrologia e cardiologia). Por outro lado, a UCP, através de docentes do ICS, colabora no grupo de aconselhamento nacional do Governo em Saúde Pública, e a Faculdade de Ciências Humanas, através do grupo de Comunicação em Saúde, elaborou, a pedido da DGS, o Manual de Saúde Pública. 
Respondendo às linhas de financiamento competitivo da FCT, por um lado, e da Fundação Calouste Gulbenkian, por outro, o CBQF e o CIIS submeteram propostas de projeto em colaboração para soluções de combate à COVID-19, que vão desde a melhoria do prognóstico e prevenção da doença à introdução de processos de robotização do diagnóstico.

No apoio à comunidade mais frágil, no Porto, a Escola de Enfermagem colabora com a Cáritas Diocesana e as paróquias em iniciativas de sensibilização e voluntariado e a UDIP reforçou o seu serviço, introduzindo serviços online. Por sua vez, em Lisboa, a FCH está a colaborar com a Ordem de Serviço Social na bolsa de voluntariado para apoio a idosos institucionalizados, tal como acontece no Centro Regional de Braga, com os estudantes e docentes das Licenciaturas em Serviço Social e Psicologia.

Do mesmo modo, a universidade está atenta aos riscos do isolamento na sua comunidade. A Clínica Universitária de Psicologia (CUP) ligada à Faculdade de Educação e Psicologia está a dar apoio psicológico à comunidade interna ao CRP durante o período de emergência. Também a Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, em Braga, disponibiliza serviço semelhante através do FACES (Centro de Atendimento Psicológico da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais), e na sede, foi lançada a iniciativa "Psicologia em Isolamento", coordenada pela Faculdade de Ciências Humanas, que pretende promover o bem-estar psicológico da comunidade académica e de todos os que acompanham regularmente as redes institucionais da UCP através da partilha de conselhos e artigos disponibilizados no site. 

O momento é de risco, mas não de desânimo. Por isso, preparando e antecipando cenários que permitam robustecer a decisão face à antecipada crise económica, a CLSBE preparou um conjunto de iniciativas que vão desde o Observatório da Sociedade Portuguesa e que estuda a transformação dos padrões de consumo, poupança e estilo de vida, à Análise de Micro Dados da Economia Portuguesa ou às Clínicas de Empresas para apoio às PME’s, lançado pelo Centro de Estudos Aplicados (CEA). No Porto, a CPBS lançou o programa virtual Gestão em Tempo de Crise dedicado a ajudar as empresas a navegar a incerteza do tempo presente.

A suspensão de atividades nos campi foi comunicada à comunidade, tendo como data limite  9 de abril. Face ao desenrolar das medidas de mitigação e ao anúncio do Governo de manter o encerramento de instituições de ensino até ao final de abril, a Reitoria decidiu que a atividade letiva até ao final do semestre se manterá em modelo de lecionação online. No final do mês de abril será avaliada a abertura progressiva dos serviços nos campi e a possibilidade da realização presencial das avaliações finais nos meses de maio, junho e julho.

Quanto às provas públicas de Mestrado, Doutoramento e Agregação, tal como determinado no Despacho Reitoral ADM/0065/2020, e nos termos do estatuído na Lei n.º 1-A/2020 de 19 de março e no artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 10-A/2020 de 13 de março, as provisões para a sua realização online mantem-se até ao final da vigência das medidas de exceção.

Vivemos certamente uma Páscoa diferente, mas a transformação que o tempo pascal consigo traz dá-nos a certeza de que a luz não tarda. Voltaremos ao rumo da sociabilidade, mais sensatos, porventura com menor ambição material e maior consciência da fragilidade própria e dos outros. Sobretudo, o momento que vivemos inspira-nos a valorizar a colaboração. Recordo as palavras do Santo Padre, na bênção Urbi et Orbi de dia 27 de março, onde invoca a reação dos discípulos à tempestade que se levantou no Mar da Galileia: “fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda, todos estamos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento.”

Brevemente haverá um depois. Quer dando o peito à tempestade como na bonança, somos Católica. Sem desorientação, com energia, solidez e motivados, onde estiverem, remaremos juntos.

Em meu nome próprio e da equipa reitoral, desejo a todos uma Santa Páscoa.

Isabel Capeloa Gil
Reitora

Lisboa, 8 de abril de 2020

pt
21-04-2020