Ana Carvalho: “Sabia que a Católica era a Universidade que melhor me ia preparar para o mercado de trabalho.”

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Ana Carvalho é CEO do Banco de Fomento e alumna da Católica Porto Business School. É licenciada em Gestão e, posteriormente, fez, também, o MBA Executivo. Ao longo do seu percurso profissional assumiu diversas funções, com destaque para a área da banca, sempre movida pelo desejo de “enriquecer e complementar os seus conhecimentos”. Profundamente realizada com a sua profissão, confessa que não se cansa de descobrir coisas novas e que é com otimismo que olha para o futuro do tecido empresarial português.

 

Atualmente, ocupa o cargo de CEO do Banco Português de Fomento. Como é que encara esta sua nova missão?

Encaro com um verdadeiro espírito de missão e de responsabilidade. Aqui a responsabilidade é acrescida porque a missão do Banco Português de Fomento é de enorme relevância para a economia portuguesa, assume-se como um desafiante desígnio público. Quero poder contribuir para refundar o Banco, fazer a diferença na economia portuguesa e apoiar o crescimento, a inovação e a sustentabilidade. Temos de ser capazes de atuar com muito profissionalismo, pragmatismo e rigor. Aquilo que o Banco de Fomento tem vindo a fazer talvez não esteja a ser feito à velocidade a que gostaríamos e, portanto, temos de acelerar essa capacidade de fazer diferente e temos que mostrar ao mundo os nossos compromissos e ações. Sempre com esta profunda necessidade de manter a ética e a transparência.

 

Em que é que consiste a missão do Banco Português de Fomento?

O Banco Português de Fomento cobre aquilo que os bancos não estão a cobrir. No fundo, nós trabalhamos e colmatamos as falhas do mercado. Foi um conceito que aprendi na faculdade e que nunca imaginei que fosse estar a trabalhar de forma tão ativa (risos). O Banco de Fomento apoia empresas e setores que estão vivos, ou seja, não vamos apoiar empresas que não tenham perspetivas de futuro. Contudo, apresentamos soluções que o banco privado não consegue aportar, porque o risco das mesmas não se adequa ao seu posicionamento. Fazemo-lo em três grandes categorias de produtos: garantias, dívida e capital.

 

“O meu pai foi uma grande inspiração para mim. Desafiou-me sempre a ir mais além e a superar-me.”

 

Escolheu estudar gestão na licenciatura. Foi uma escolha fácil?

Não foi uma decisão nada fácil. Foi complicado de decidir e posso confessar que só no final da minha licenciatura é que tive a certeza de que estava no lugar certo. Durante muito tempo naveguei entre a Medicina, o Direito e a Gestão.

 

Mas acabou por decidir estudar Gestão …

O meu pai sempre teve uma importância muito grande na minha vida, não só pessoal, mas, também, na minha vida profissional. O meu pai é engenheiro químico, mas a uma dada altura passou a ser gestor. Convivi de perto com esta realidade e talvez tenha surgido daí a minha vontade em enveredar, também, por esta área. O meu pai foi e é uma grande inspiração para mim. Desafiou-me sempre a ir mais além e a superar-me. 

 

Ingressa em Gestão na Universidade Católica no Porto.

Confesso que a primeira vez que chorei de emoção foi quando soube que tinha entrado na Católica. Como nessa altura havia o ano zero na Católica, eram poucas as vagas para quem já tinha frequentado o 12º ano noutra escola e sabia-se inclusivamente que as matérias que tinham sido lecionadas no ano zero, ano que eu não tinha frequentado, iam ser objeto de avaliação. Mas consegui entrar e fiquei muito feliz por isso.

 

Porquê tanta vontade em ingressar na Católica?

Puro pragmatismo. Pedi ao meu pai que perguntasse a um conjunto de amigos que universidade é que devia escolher para estudar e qual é que me ia preparar melhor para o mercado de trabalho. A resposta foi unânime: a Católica. Apesar de também ter entrado noutra importante Universidade escolhi a Católica.

 

“A forma de lecionar da Católica era já na altura muito inovadora e focada na construção do conhecimento prático.”

 

Quais as suas memórias mais marcantes dos tempos da licenciatura?

Em primeiro lugar, a Queima das Fitas, mas não pelos motivos comuns (risos). Na minha altura, os exames e as frequências calhavam sempre na semana da Queima das Fitas. Só no quinto ano é que conseguimos convencer a Universidade a deixar-nos usufruir de pelo menos uma Queima sem exames. Mas guardo muito boas recordações, porque, vendo com distância, consigo reconhecer que esse facto me tornou mais resiliente e responsável. Foi importante para mim aprender a conciliar a responsabilidade do estudo e o tempo de lazer. Apesar de, durante os quatro anos, apenas ter conseguido ir ao cortejo e à noite do cortejo, são ótimas as recordações desses tempos. No quinto ano, compensei (risos). Outra recordação muito importante que guardo dos meus anos de curso são as duas pessoas que tive o privilégio de ter como professores e que me fizeram perceber que amava a Gestão: o Professor Alberto Castro e o Professor José Pinto dos Santos. São duas pessoas que, do ponto de vista intelectual, me fascinaram e marcaram muito. Ajudaram-me a perceber o quanto eu me sentia realizada na Gestão.

 

“O mais importante é termos a capacidade de fazer coisas diferentes.”

 

O que é que distinguia a Católica das demais universidades?

A forma de lecionar era já na altura muito inovadora e focada na construção do conhecimento prático. Senti-me sempre muito desafiada a questionar as realidades e a estar preparada para trabalhar em contextos distintos. A sua fortíssima componente prática distinguia-a de outras universidades, porque a teoria era sempre questionada em termos práticos e reais. Para além disso, sempre apostaram muito no desenvolvimento de outro tipo de competências, que vão muito para além dos planos curriculares convencionais.

 

“Está na minha natureza a busca constante por coisas novas.”

 

Que experiências marcaram o seu percurso profissional?

Comecei a trabalhar numa área comercial de grandes empresas, iniciei-me no corporate banking do BPI. Nesta experiência tive oportunidade de conhecer a realidade empresarial de grandes empresas. Passados três anos, saltei para a área de capital de risco. Claramente que com vontade de ir além daquilo que já sabia e de começar a fazer a componente de avaliação de empresas e de negociação de entradas no capital. Às competências comerciais que já tinha adicionei uma componente mais técnica, financeira e completa. Depois desta experiência senti que precisava de novo de evoluir e aí decidi ir fazer o MBA da Católica Porto Business School, com o objetivo de sair da componente financeira pura e tentar abraçar conhecimentos de marketing e de comunicação. Como dá para ver, eu tinha um plano de carreira concreto na minha cabeça.

 

Sempre com o objetivo de complementar e enriquecer a sua experiência …

Sim, está na minha natureza a busca constante por coisas novas, diferentes, que me façam sair da zona de conforto e que me permitam, claro, poder ocupar diferentes funções. É por isto que o plano de carreira é tão importante, porque nos permite olhar para o nosso percurso de forma estratégica e permite-nos tomar decisões e seguir caminhos que nos vão fazer lá chegar. Com muito trabalho, claro …  Tenho sempre em mim a questão: o que é que vou fazer a seguir?

 

“A estrutura das organizações tem de ser repensada para que a eficiência seja maximizada.”

 

E o que é que fez a seguir ao MBA?

Não consegui de imediato ir trabalhar em Marketing, porque fui convidada para ir dirigir um centro de médias empresas no BPI. Foi uma área muito interessante, onde passei para o mundo das pequenas e médias empresas. Depois, porque não desisti da minha ambição, realmente passei para responsável do marketing estratégico do BPI. Trabalhei várias áreas: comunicação dirigida ao segmento empresarial, desenvolvimento de soluções e de preço do produto, como é que as equipas devem estar distribuídas, qual é o sistema de objetivos para motivar a venda, qual é a coreografia de venda para maximizar a venda e a fidelização. Foi talvez a experiência mais fascinante naquela Instituição que foi a minha grande escola - o BPI.

Em 2019, passo para a administração da COSEC. Comecei a querer sair do mercado da banca e tentei diversificar e fui para a administração de um setor de atividade diferente, o dos seguros de crédito. A COSEC é uma empresa extraordinária que tem uma importância imensa na economia. Nós cobríamos mais de 10% do PIB nas nossas transações. Na COSEC tive uma visão nacional do mercado empresarial. Mais uma vez, foi uma experiência muito enriquecedora. Foi um projeto onde cresci muito, mas onde deixei muitas marcas também (um novo CRM, um portal de cauções,…).

 

Privilegiou sempre a diversidade de experiências?

Sempre, sempre. Acho que se assim não fosse não estaria onde estou hoje. Para além disso, também é preciso ir comunicando quais são as nossas intenções de carreira para que as coisas possam acontecer. E persistir no nosso caminho…

 

“Temos de encarar todos os desafios com otimismo.”

 

Quais são os grandes desafios das empresas portuguesas?

Ligado à realidade do Banco de Fomento, estamos a distribuir fundos ligados ao PRR. Ao aportar este capital para a economia, queremos que as empresas tenham soluções de capital que permita inovar, crescer e acelerar a transição digital. Por isso, um primeiro desafio e preocupação é fazer chegar estes fundos às empresas. Apoiar o crescimento do tecido empresarial português é um grande desafio. Queremos que as empresas pequenas sejam médias e que as médias sejam grandes e queremos ajudar para que todas possam ser internacionais. Claro que do lado das empresas tem de haver ambição e isso exige literacia e liderança financeira. Outro grande desafio é o da transição digital, também ligado ao PRR.  Aquilo que tenho assistido em diversas empresas é uma vontade grande de agarrar no processo da digitalização, mas talvez em alguns casos não de forma estrutural. A transição digital não pode unicamente passar por colocar no digital aquilo que antes só estava em papel. Não podemos cair no erro de desperdiçar uma oportunidade de reformular processos e de introduzir melhorias (sobretudo nós, no Banco Português de Fomento). O processo de transição digital tem de passar por uma reflexão transversal. Não vamos digitalizar o que está errado. O grande desafio é termos a capacidade de repensar todo o processo. A estrutura das organizações tem de ser repensada para que a eficiência seja maximizada.

 

“Sinto sempre a necessidade de dar contributos noutras esferas e de criar complementaridades.”

 

É otimista relativamente ao futuro do tecido empresarial português?

Encaro estes desafios com muito otimismo, mas sempre com necessidades de evolução. Portugal tem empresas ótimas e temos muitos casos de sucesso em todos os setores de atividade. Há muita gente que não faz ideia de que Portugal tem mais unicórnios do que alguns países muito maiores que o nosso. Há, também, muita gente que não faz ideia que há empresas portuguesas que produzem os sapatos da NASA e que o chão da Capela Sistina foi feito com a nossa cortiça. Não tenho dúvidas do nosso know-how e da nossa qualidade. Perante isto, a minha visão só pode ser otimista. Temos de ser capazes de dar os passos seguintes, de ultrapassar momentos de instabilidade como foi o impacto da COVID-19 e como é o impacto da guerra na Ucrânia. Para além disto, temos também um problema transversal que é a escassez de recursos humanos. Temos de encarar todos os desafios com otimismo, com garra e ambição de fazer melhor.

 

Tem planos para o futuro?

Cheguei muito recentemente ao Banco de Fomento e, por isso, neste momento, estou focada no futuro desta instituição e na forma como posso contribuir para a sua missão. Em refundar o Banco e transformá-lo num forte Banco promocional, reconhecido pelo seu impacto na economia e qualidade e tempestividade de serviço. Neste momento, o meu projeto de carreira é neste lugar. Quero garantir que a instituição rapidamente se organiza e que são identificadas as falhas e que as mesmas são cobertas e reparadas. Estou, verdadeiramente, empenhada. Mas, claro, que outros desafios irão surgir. Sinto sempre a necessidade de dar contributos noutras esferas e de criar complementaridades.

 

O que é que mais gosta de fazer nos seus tempos livres?

O que mais gosto é de estar no exterior. Tudo o que seja ao ar livre, tudo o que tenha sol e natureza. Claro que passar tempo com a minha família me deixa, profundamente, feliz. Recentemente, também, descobri que adoro jardinagem. Não percebo nada, mas adoro experimentar e ver se cresce. Descobri, também, que gosto de fazer vela, comecei a aprender no verão.

 

Sempre a descobrir coisas novas…

Não me canso de descobrir coisas novas. Veja lá que só pelos quarenta é que aprendi a esquiar e a fazer surf!

 

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20-04-2023