Diana Barbieri: “Na Escola das Artes somos desafiados a criar.”

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Diana Barbieri tem 22 anos, é do Porto e é estudante do Mestrado em Gestão de Indústrias Criativas da Escola das Artes, da Universidade Católica no Porto. Desde cedo criou uma ligação grande com o mundo da Cultura e hoje em dia não se imagina a trabalhar noutra área. É nos bastidores e na produção que se sente realizada e é na Escola das Artes que pretende “aprofundar conhecimentos”. Peça de Teatro favorita? “À espera de Godot”.

 

De onde é que surgiu o seu gosto pela área da Cultura e do Espetáculo?

Desde a minha infância que vou com frequência a museus, concertos, peças de teatro. Fui sempre muito estimulada pelos meus pais. A ligação com a cultura acabou por surgir de forma natural e a uma dada altura já sabia que o meu caminho tinha que ser por aqui, tanto é que no fim do 9º ano decidi ingressar na Escola Balleteatro. Foram 3 anos intensos a fazer teatro no Coliseu do Porto.

 

Até que descobre que gosta mais dos bastidores do que estar em palco…

Sim, comecei a perceber que aquilo que mais me fascinava era estar nos bastidores a acompanhar todo o processo de construção de um espetáculo. A partir desse momento, comecei a perceber que o meu caminho seria por aqui. Interessa-me particularmente a interdisciplinaridade que está por trás da construção de um projeto cultural.

 

“Sinto-me muito desafiada e acompanhada na Escola das Artes.”

 

Licenciou-se em Gestão de Património Cultural e terminado o curso ingressa no Mestrado em Gestão de Indústrias Criativas, na Escola das Artes. Porquê esta sua escolha?

Eu já conhecia bem a Católica. Já cá tinha estado e visitado as instalações. No fundo, estava familiarizada com a Escola das Artes, conhecia alguns dos seus projetos e exposições e sabia bem que era aqui que queria continuar os meus estudos. Essencialmente, procurava o lugar certo para aprofundar os meus conhecimentos e para ganhar uma maior ligação ao mercado da Cultura em Portugal.

 

O que é que distingue a Escola das Artes?

Existe uma relação muito próxima entre os estudantes e os professores. É uma enorme vantagem podermos viver uma verdadeira proximidade com quem tem tanto para nos ensinar. Para além disso, muitos dos professores trabalham diretamente na área e conseguem dar-nos uma perspetiva real do mundo das indústrias criativas. Há um equilíbrio muito bom entre a teoria e a prática. As instalações e os equipamentos que temos disponíveis também nos dão uma oportunidade grande de desenvolvimento de projetos e sente-se um grande acolhimento e apoio por todas as nossas iniciativas.  

 

“Não é possível idealizar o mundo sem a Cultura.”

 

O que é que tem sido mais marcante até ao momento?

Antes de vir para a Católica, nunca tinha pensado na possibilidade de criar o meu próprio projeto cultural. Foi a Católica que me fez perceber que essa porta está aberta. Sinto-me muito desafiada e acompanhada. Na Escola das Artes somos desafiados a criar.

 

Em que área gostaria de criar o seu próprio projeto cultural?

Apesar de ter uma afinidade grande com o Teatro, também gosto de muitas outras áreas. Tenho bastante interesse pelo património gastronómico português e considero que é pouco valorizado, enquanto elemento essencial da nossa cultura. Quem sabe se um dia não estarei a desenvolver um projeto que trabalhe a valorização do nosso património gastronómico. Que histórias sobre o nosso povo é que as receitas nos contam? Que mensagens é que se passam através de diferentes pratos? A comida é cultura e deve ser interpretada, vivida e experienciada como tal.

 

“Estou sempre aberta a conhecer outros mundos.”

 

Qual é a importância da Cultura?

Participei há uns tempos num projeto da Cooperativa Árvore de apoio aos artistas ucranianos. Apoiamos a criação artística daquelas pessoas e, no fim, houve um leilão das obras que reverteu a favor das vítimas da guerra da Ucrânia. Estávamos todos unidos em torno da cultura. A Cultura era aquilo que nos unia e, enquanto assim for, não há dúvidas de que a Cultura tem um papel essencial na sociedade e no mundo. É inegável a sua importância.

 

Trabalhou, também, cerca de um ano no Bairro dos Livros. Em que consiste o projeto?

Trabalhar no Bairro dos Livros foi uma grande escola. Trata-se de um projeto cultural que se dedica à valorização do património literário, através da investigação, do desenvolvimento de guias literários e de outras iniciativas. Houve uma que foi particularmente interessante:  estivemos com diferentes mulheres que não sabiam ler e escrever. Quisemos mostrar que mesmo sem saberem ler e escrever podiam ser autoras de poesia. A poesia vem de dentro de nós.

 

O que é que mais a move nesta área?

A Cultura faz parte da nossa vida. Não é possível idealizar o mundo sem a Cultura e sem a possibilidade de contacto com as diferentes formas de arte. Poder trabalhar nesta área significa que posso vir a contribuir para oferecer Cultura à comunidade. Só pode ser muito gratificante.

 

“Todos esperam qualquer coisa, ainda que não lhe saibamos dar nome.”

 

Que conselho daria a alguém que também tem vontade de trabalhar nesta área?

É muito importante consumir cultura. Ando sempre por aí a ver o que está a acontecer e estou sempre aberta a conhecer outros mundos. É essencial estar-se aberto à Cultura. Só desta forma é que encontro o meu espaço e o meu papel na Cultura e no mundo.

 

Um espaço de Cultura especial na Cidade do Porto?

Teatro Nacional de São João.

 

Peça de teatro favorita?

“À espera de Godot”, do Beckett, encenada pelo Gábor Tompa. O Godot é um personagem-mistério que não existe. As duas personagens principais ficam eternamente à espera de Godot e ele não aparece. No fundo, estamos todos à espera de Godot. Todos esperam qualquer coisa, ainda que não lhe saibamos dar nome. Foi muito marcante. Quando terminou, lembro-me que pensei: “Podemos começar outra vez?”

 

pt
27-04-2023