Estudo relaciona dor crónica e país de origem em residentes nos EUA ou em Portugal

“Pain-related beliefs, coping, and function: An observational study on the moderating influence of country of origin” é o nome do artigo publicado no The Journal of Pain, uma das principais revistas da área de especialidade da dor. O artigo reporta os resultados de um estudo transcultural que envolveu 561 adultos com dor crónica, nascidos e residentes nos EUA ou em Portugal.

Este estudo comparou a forma como as pessoas dos dois países lidam com a sua dor, e aquilo que pensam sobre a dor crónica, e o quanto estas estratégias de lidar com a dor e as crenças acerca da dor são adaptativas ou maldaptativas em pessoas com dor crónica oriundas destes países.

Alexandra Ferreira Valente, investigadora auxiliar do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) da Faculdade de Educação de Psicologia da Universidade Católica, responsável pelo estudo refere que os resultados deste estudo permitem concluir que o “país de origem modera a relação entre algumas crenças e formas de lidar com a dor, por um lado, e a capacidade funcional e saúde física e mental”.

Persistir na tarefa que se está a realizar apesar da dor experimentada, e a crença de que se é capaz de controlar a sua dor são preditores de maior capacidade funcional e melhor saúde. Mas o primeiro é um preditor mais forte de bons resultados de saúde em adultos dos EUA, e o segundo em adultos portugueses com dor crónica. O evitamento de atividades que se antecipa poderem causar dor, e as crenças de que de que dor origina incapacidade, de que as emoções influenciam a experiência de dor, e de que o uso de analgésicos é o curso de tratamento para a dor crónica mais adequado, são preditores de piores resultados de saúde. Mas enquanto o evitamento é um preditor mais importante nos adultos dos EUA, as crenças referidas são-no em adultos portugueses com dor crónica.

“Embora os resultados preliminares sugiram que os antecedentes culturais podem influenciar a dor e a funcionalidade através dos seus efeitos nas crenças e na capacidade de lidar com a dor, nenhum estudo anterior tinha testado diretamente se o país de origem modera as associações entre estes fatores psicológicos e a dor e a funcionalidade”, explica a investigadora do CEDH. “Face a estes resultados, podemos concluir que pequenas adaptações culturais das intervenções psicossociais para pessoas com dor crónica podem contribuir para melhorar a sua eficácia”, conclui.

 

Dor crónica: uma experiência multidimensional

Os participantes portugueses referiram uma maior concordância com a crença de que a dor é um sinal da presença de uma lesão, de que o uso de analgésicos é o curso de tratamento mais adequado, e um uso mais frequente do relaxamento e da procura de suporte social e um uso menos frequente do descanso e do exercício físico como formas de lidar com a dor.

“A dor é uma experiência multidimensional e os tratamentos da dor crónica que focam os fatores psicossociais que a investigação demonstrou estarem associados a resultados de saúde em pessoas com dor crónica, reduzem a dor e melhoram a capacidade funcional e a saúde física e mental. Estes tratamentos ignoram frequentemente os fatores psicológicos e socioculturais que se sabem ser importantes na modulação da experiência de dor e para a qualidade de vida das pessoas com dor crónica”, explica a investigadora.

Os resultados da investigação transcultural podem fornecer uma base empírica para determinar se, e como, os tratamentos para a dor crónica podem ter de ser adaptados para se tornarem mais adequados e eficazes em populações de diferentes países.

O artigo “Pain-related beliefs, coping, and function: An observational study on the moderating influence of country of origin” está disponível https://www.jpain.org/article/S1526-5900(23)00403-0/fulltext e tem como autores Alexandra Ferreira Valente, Saurab Sharma, Joy Chan, Sónia Bernardes, José Pais-Ribeiro e Mark P. Jensen.

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15-06-2023