Lourenço Rezende: “A dúvida é o motor que faz avançar.”

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Lourenço Rezende é natural do Porto e tem 27 anos. Licenciado e mestre pela Escola Superior de Biotecnologia, frequenta, atualmente, o doutoramento em Biotecnologia na mesma instituição. É no laboratório que se sente bem e dedica-se à investigação nas áreas da proteção do consumidor e do combate ao desperdício alimentar. História e Política são também algumas das suas áreas de interesse. Curioso e insatisfeito por natureza, procura respostas e desafios. Enquanto investigador, pretende “colocar o mundo cada vez mais próximo da verdade.”

 

Com 18 anos, escolheu estudar Microbiologia, na Escola Superior de Biotecnologia. O que é que motivou esta sua escolha?

Conheci a licenciatura em Microbiologia, porque houve uma professora da minha escola secundária que nos levou em visita à Escola Superior de Biotecnologia. Foi aí que tomei conhecimento desta licenciatura e que percebi que era isto que eu queria estudar. O gosto pelas ciências já existia desde criança. Sempre tive uma tendência natural para o mundo das ciências.

 

“Na Escola Superior de Biotecnologia, a Ciência flui, funciona e cresce.”

 

Em criança, o que é que o mais interessava?

O BBC Vida Selvagem teve uma importância grande para mim. Ainda hoje adorava ter a minha vida narrada pelo Eduardo Rego (risos). Desde miúdo que fui cultivando o gosto pelo mundo animal e pela natureza. Faz parte de mim, desde que me lembro.

 

O que é que o marcou mais durante a Licenciatura?

Marcaram-me muito as disciplinas que contribuem para uma formação integral e ética. A Universidade Católica preocupa-se em formar cientistas que, acima de tudo, são pessoas. Nós não somos robots e daí a importância de disciplinas como Humanismo e Cultura Cristã e Ética, por exemplo. A formação que a Católica me proporcionou e esta sua preocupação em formar antes de bons profissionais boas pessoas marcou-me muito.

 

“Apesar de haver muita gente que passa fome, há, também, um imenso desperdício alimentar. Estamos perante um contrassenso gigante.”

 

Durante a licenciatura com que profissão sonhava?

Quando entrei na licenciatura em Microbiologia não fazia ideia daquilo que queria fazer. Só sabia que queria continuar a estudar coisas de que gostasse e a verdade é que, dez anos depois, continuo sem saber aquilo que quero fazer quando for grande (risos).

 

Dez anos depois continua pela Escola Superior de Biotecnologia. Desta vez como estudante de doutoramento.

Sim, depois da licenciatura em Microbiologia e do Mestrado em Biotecnologia e Inovação, ingressei no Doutoramento. A ESB é muito forte na área alimentar e, por isso, fui sendo naturalmente desafiado para esta área e comecei a especializar-me na área da proteção do consumidor e do combate ao desperdício alimentar. No doutoramento, concretamente, estou a estudar as hortas urbanas. Temos assistido a um aumento de pessoas que começam a reclamar, de certa forma, para si alguma parte da produção alimentar, em vez de estarem completamente dependentes das superfícies comerciais. Estou a estudar a qualidade dos alimentos que crescem em ambientes urbanos. Pretendo compreender se são seguros para consumo ou não.

 

Qual é para si a pertinência do estudo destas temáticas relacionadas com o desperdício alimentar e com a qualidade dos alimentos?

Vivemos num contexto a nível global de crescimento populacional e daí surgem muitos problemas como o aumento de fome. Apesar de haver muita gente que passa fome, há, também, um imenso desperdício alimentar. Estamos perante um contrassenso gigante. Por exemplo, os nossos oceanos têm uma taxa de sobrepesca que ronda os 60%. Ainda assim, 30% do que é pescado é desperdiçado.

 

“Aquilo que me move a investigar é a dúvida constante que tenho do meu próprio trabalho.”

 

O seu trabalho exige muitas horas em laboratório, mas nem sempre teve como objetivo a prática laboratorial...

Pois não, mas foi por causa da minha tese de mestrado que mudei completamente a perceção que tinha. A minha tese de mestrado resultou de uma experiência laboratorial de 6 meses na faculdade. Se ingressei no Mestrado em Biotecnologia e Inovação com a expectativa de entrar no mundo empresarial, foi com o desenvolvimento da tese que percebi que gosto mesmo do ambiente de laboratório.

 

O que é que mais gosta?

A equipa é muito boa, é do melhor que há. Para além disso, os professores, que nos conhecem a todos pelo nome, são sempre muito disponíveis. Aqui na Escola Superior de Biotecnologia, a Ciência flui, funciona e cresce.
 

 

“É possível combinar Ciência e Religião e não tem que haver medo em fazê-lo.”

 

Qual é o motor da investigação?

Aquilo que me move a investigar é a curiosidade e a vontade de saber mais e melhor. Enquanto investigador, é o motor que me faz avançar, procurar e investigar mais. Duvido sempre dos meus próprios resultados e só me sinto satisfeito quando reconheço que todas as variáveis são tomadas em consideração e posso confortavelmente e honestamente afirmar uma conclusão. Às vezes os resultados estão lá e aquilo que mais queremos é tirar uma conclusão imediata. Muitas vezes movidos pela ânsia de publicar e de mostrar resultados. O importante é termos o foco naquilo que realmente nos leva a investigar. Nós não somos investigadores para nos enriquecermos a nós mesmos, mas sim para colocarmos o mundo cada vez mais próximo da verdade. É a dúvida constante que move e que nos leva ao conhecimento.

 

Investigador e católico. Porque é que ainda há quem ache que a Ciência e a Religião não podem conviver?

As pessoas cometem o erro de achar que a Ciência e a Religião procuram a mesma coisa. A Ciência é uma coisa natural ao homem, uma forma de explicar o mundo a partir da nossa perceção limitada dele. Mas isto não quer dizer que não haja um mundo que caia fora das nossas perceções. No meu caso concreto da Microbiologia, às vezes, dou por mim a achar o microcosmos quase mágico. É de uma beleza imensa ver como os microrganismos funcionam. São milhões de espécies e cada uma com as suas próprias características e todas funcionam num determinado equilíbrio e o mundo mantém-se por causa deles. Há um equilíbrio perfeito! Também Albert Einstein dizia “The more I study science, the more I believe in God. É possível combinar os dois mundos e não tem que haver medo em fazê-lo.

 

Que outras áreas é que lhe interessam e que ocupam os seus tempos livres?

Gosto muito de História e desengane-se quem acha que a História não é útil à Microbiologia e principalmente à área Alimentar. A gastronomia de um povo é algo que lhe é querido e familiar, qualquer inovação nesta área exige o respeito pela tradição e o conhecimento dos fatores que levaram à criação desses hábitos. Não procuramos a total rutura com o antigo, nem a estagnação, queremos sim inovar de forma consciente e passar a tocha às futuras gerações. Assim, é-me muito útil e importante conhecer a História da Alimentação, só assim consigo definir melhor o futuro dela. Para além disso, gosto muito de Política e sou muito agarrado às minhas convicções.

 

O que é que o anima?

É bom ver um artigo meu publicado, seria bom ver um produto que ajudei a desenvolver no mercado. Mas é muito melhor ajudar os meus colegas no meu dia-a-dia, garantir que há menos famílias a passar fome ou até contribuir para que haja menos pessoas a ficarem doentes por infeções alimentares. São também as virtudes cristãs que me movem verdadeiramente e que animam a minha vida.

 

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02-03-2023