Pedro Ribeiro: “Não se pode ter medo do avanço tecnológico.”

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Pedro Ribeiro tem 23 anos e é estudante de doutoramento e investigador na Faculdade de Educação e Psicologia, da Universidade Católica no Porto. Mestre em Engenharia Biomédica pela Escola Superior de Biotecnologia, confessa que “olha para a tecnologia com curiosidade e esperança”. A Investigação que desenvolve está ligada com as neurociências, as interfaces cérebro-computador e a sua aplicação no estudo do comportamento de consumidor, áreas que diz serem “fascinantes e promissoras”.

 

Como é que olha para o avanço da tecnologia?

Fugir da tecnologia não está muito no meu ADN (risos). Não se pode ter medo do avanço tecnológico, ainda que suscite alguns dilemas. É importante que se vá fazendo essa reflexão. Olho para a tecnologia e para o seu desenvolvimento com muita curiosidade e, também, com esperança. Fala-se muito do ChatGPT: só posso estar expectante e muito curioso. A tecnologia que está por trás desta interface vai revolucionar a maneira como, por exemplo, se faz investigação.

 

“A Católica é muito reconhecida não só ao nível nacional, mas, também, internacional.”

 

Estudou Engenharia Biomédica em Londres. Como foi a experiência?

Sempre gostei da cultura inglesa. O que mais me marcou foi o tipo de educação em si, porque é muito diferente da educação em Portugal. Na área da Engenharia, em concreto, têm uma educação extremamente prática e muito virada para a indústria.

 

Quando é que surgiu a ideia de vir fazer o mestrado para a Universidade Católica?

O meu plano inicial era continuar em Londres, mas a pandemia de Covid-19 veio estragar-me os planos e acabei por regressar e por escolher vir fazer o mestrado em Engenharia Biomédica, na Escola Superior de Biotecnologia. Há males que vêm por bem. Conheci a Católica através de uma colega minha. É uma Universidade muito reconhecida não só ao nível nacional, mas, também, internacional. A Católica é muito forte na oferta de cursos, nos professores, na empregabilidade e na investigação.

 

Como é que se contagia os estudantes para a Investigação?

A Católica é um bom exemplo disso, porque promove muito a participação dos alunos nos projetos de investigação. É uma grande mais-valia, porque acaba por proporcionar uma experiência de Universidade muito completa. A ligação à investigação é completamente diferenciadora e é transmitida não só nos contextos de sala de aula, como, também, em atividades extracurriculares. Na Católica, os alunos têm a oportunidade de participar em clubes de investigação e de apresentarem trabalhos em conferências nacionais e internacionais.

 

“As interfaces cérebro-computador são o que nos permite fazer com que o cérebro interaja com a tecnologia.”

 

Depois de terminar o seu mestrado, ingressou no doutoramento em Psicologia Aplicada, da Faculdade de Educação e Psicologia. Está a fazer investigação no âmbito do Human Neurobehavioral Laboratory. Em que consiste o seu projeto de doutoramento?

O meu projeto de doutoramento integra-se no projeto BioShoes4all. Estou a desenvolver um sistema de classificação virado para o comportamento do consumidor. Sabemos que a atividade de várias áreas do cérebro é muito complexa na tomada de decisões e, por isso, estamos a classificar o comportamento do cérebro quando um determinado indivíduo olha para um certo produto. Desenvolvo este projeto num ambiente internacional, com a possibilidade de realizar estudos em Espanha e Inglaterra, tendo supervisores de ambos os países.

 

“No HNL, somos uma equipa muito unida.”

 

Para além da sua tese de doutoramento, integra também outros projetos de investigação do HNL. Tem-se dedicado concretamente à interface cérebro-computador. Em que consiste?

O grande futuro de como percebemos o cérebro já não passa unicamente por estudar a anatomia ou por estudar que áreas é que se ativam e onde. Agora queremos ir mais além. Quando ligamos um cérebro a um computador precisamos de desenvolver os algoritmos que, por exemplo, leem que o cérebro está ativo numa determinada frequência, em certa parte do encéfalo e temos que saber o que é que isso quer dizer em termos cognitivos, emocionais e funcionais. As interfaces cérebro-computador são o que nos permite fazer com que o cérebro interaja com a tecnologia. O futuro desta área é promissor, porque no contexto em que vivemos é um recurso cada vez mais necessário.

 

Que tipo de aplicações práticas existem através dessas interfaces?

Para o combate e tratamento de doenças, por exemplo. Um bom caso é o de uma empresa que tem como objetivo primário desenvolver uma rede de sensores e transmissores que é implantada dentro do cérebro para o tratamento do Alzheimer e do Parkinson, a Neuralink do Elon Musk. Esses sensores e transmissores vão interagir com uma parte do cérebro, aliados com a inteligência artificial, para gerir os estímulos que são negativos com os estímulos positivos que são modelados pelo aparelho e pelo computador.

 

“Curiosidade e pensamento crítico.”

 

Como é que olha para a multidisciplinaridade na Investigação?

Senti muito esse cruzamento e essa ligação entre diferentes áreas de estudo, desde logo porque comecei a fazer mestrado na Escola Superior de Biotecnologia e no âmbito da minha tese estive, também, envolvido com projetos da Faculdade de Educação e Psicologia. Desde que estou como investigador do HNL e estudante de doutoramento, tenho vivido um ambiente muito multidisciplinar no laboratório. Os engenheiros de formação, como é o meu caso, têm um ponto de vista muito mais objetivo e os psicólogos são muito mais construtivistas e olham mais para a subjetividade. Criam-se projetos muito interessantes e únicos com os contributos de todas estas áreas. Acabamos, também, por estar envolvidos nas várias linhas de investigação e nos trabalhos e comunicações dos vários elementos do laboratório. Vivemos intensamente esta multidisciplinaridade, desde logo porque somos uma equipa muito unida.

 

Que características acha que são importantes para o desenvolvimento do trabalho de Investigação?

Curiosidade e pensamento crítico.

 

Como é que isso se trabalha?

Não acredito que se nasça com estas características. Acho que é algo que se vai desenvolvendo. O ensino é essencial para isto. Dou algumas aulas de Neurociências Cognitivas e Afetivas e tento trabalhar com os meus alunos a capacidade de pensarem acerca da aplicabilidade do conhecimento que adquirem e, desta forma, terem pensamento crítico, isto é, pensarem o que querem fazer e de que forma o conseguem fazer.  

 

O que gosta de fazer nos tempos livres?

Ver séries, filmes e ler. A minha mãe é professora e o meu pai jornalista, tenho uma bela biblioteca em casa. Nunca me faltam livros para ler.

 

pt
22-06-2023