Ricardo Monteiro: “Quando se quer arriscar, não se pode ter medo do fracasso.”

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Ricardo Monteiro tem 37 anos, é do Porto, é alumno da Católica Porto Business School e é um dos fundadores do Mercadão. Licenciado em Economia e Mestre em Finanças, guarda memórias “incríveis” dos tempos da Católica: “Fui muito feliz”. O seu percurso profissional marca-se por uma grande diversidade de experiências, mas acima de tudo pelo seu gosto de empreender e de criar “coisas”. Ser empreendedor está-lhe “no sangue”.

 

Que conselho daria a alguém que tem vontade de empreender o seu próprio negócio?

Não há uma fórmula para o sucesso. Depende de nós sermos capazes de fazer tudo para que os projetos se concretizem. É essencial ter-se muita vontade e muita paixão por aquilo que se está a fazer. Também não se pode estar obcecado pelo retorno financeiro, porque isso vai desviar a atenção e o foco do que é essencial. Nunca se deve esquecer o propósito e o sonho que está por trás e que move o projeto. 

 

Qual é a sensação de criar um negócio e de vê-lo crescer?

É incrível e o que fica são as pessoas. No Mercadão, já passaram por nós milhares de pessoas. Conseguimos formar uma equipa de pessoas verdadeiramente mobilizadas e dedicadas. Tenho a sensação de que, de certa forma, todas levam um bocadinho de mim. Olhar à volta e perceber que o que construímos teve impacto na vida da sociedade é espetacular. 

 

Como é que se lida com o fracasso?

Convivendo com o fracasso. É por isso que quando se quer arriscar não se pode ter medo do que poderá correr mal ou daquilo que pode fracassar. O fracasso é inevitável e ele vai aparecer mais cedo ou mais tarde. Falhar, aprender, levantar. E siga para a frente.

 

“Fui muito feliz na Católica!”

 

Quando terminou o Ensino Secundário, escolheu estudar Economia na Universidade Católica no Porto. O que é que orientou a sua escolha?

Eu tinha uma boa média e por isso estava confortável em escolher a Universidade onde queria estudar. Interessei-me em conhecer a Católica e em perceber o que é que a distinguia de outras Universidades. Nessa altura, já tinha uma veia empreendedora e a Católica era a escolha que ia conseguir oferecer uma excelente formação académica e que, ao mesmo tempo, conseguia proporcionar um caminho mais virado para as soft skills, que sempre valorizei e que são determinantes e fundamentais na nossa formação. Para além disso, como mantive uma boa média, fiz o meu percurso na Católica com Bolsa de Mérito. Escolher a Católica para estudar foi a primeira decisão importante que tomei na minha vida. E tanto gostei, que acabei por continuar para o Mestrado.

 

O que é que mais o marcou ao longo dos seus anos na Universidade Católica?

Fui muito feliz na Católica! Ir para a Católica foi a melhor decisão que podia ter tomado. Conheci pessoas espetaculares e a convivência com os professores sempre foi muito próxima. Ainda hoje mantemos o contacto e, às vezes, a convite dos professores, vou dar algumas aulas e participo em algumas mentorias. A Católica ajudou-me a construir a pessoa e o profissional que sou hoje. A experiência que me proporcionou foi brutal e inesquecível. Para além disso, e não menos importante, foi por causa da Católica que conheci a minha mulher (risos).

 

“A vontade de criar algo meu era grande.”

 

Acabou por iniciar a sua vida profissional no setor da banca. 

Mais uma vez: por causa da Católica. No verão do meu 2º ano da licenciatura, tive a oportunidade de fazer um estágio no Millenium BCP. Correu mesmo muito bem e depois surgiu a oportunidade de continuar. O meu último ano da licenciatura foi dividido entre as aulas, os compromissos com a faculdade e o meu part-time no banco. No fim da licenciatura, ingressei no Mestrado em Finanças, já com o objetivo de investir nesta área e de entrar neste mercado. Depois fui para o BPI, como Financial Analyst, onde estive cerca de 5 anos.

 

A sua experiência na Banca contrasta muito com aquela que é a sua atual vida profissional …

Completamente. A minha vida acabou por dar uma enorme volta. Estive no BPI ainda alguns anos e acabei por conseguir um bom lugar e estabilidade. Foram cinco anos onde aprendi imenso, foi uma excelente escola. Mas comecei a sentir-me irrequieto e com vontade de fazer outras coisas. Olhava e perspetivava a minha vida a longo prazo e não me imaginava na posição que tinha. Comecei a ter vontade de sair da parte financeira e de mergulhar mais profundamente na Gestão. Aquilo que eu fazia já não me enchia a alma. Despedi-me do BPI e entrei para a SONAE para uma vaga na área de e-commerce

 

Essa nova experiência de trabalho acabou por ser determinante?

Sim, desde já, porque foi lá que conheci aquele que viria a ser o meu sócio em vários negócios. Foi uma área nova para mim, só tinha experiência na parte financeira da banca, mas acabei por me sentir neste novo desafio como um peixe na água. Em pouco tempo, cresci muito e, também, foi determinante para perceber aquilo que realmente queria. Estive neste trabalho cerca de um ano e alguns meses e depois acabei por sair. A vontade de criar algo meu era grande e senti que tinha a pessoa certa ao meu lado para isso.  A decisão de sair acabou por ser relativamente fácil, porque era mesmo isto que eu queria. Saímos da SONAE ainda sem nada definido. Apenas sabíamos que queríamos criar negócios novos online.

 

“Só com muita dedicação e empenho é que conseguimos estabelecer com força a marca Mercadão no mercado.”

 

Até ter fundado o Mercadão, surgiram vários negócios.

O percurso começou quando eu tinha 28 anos e hoje tenho 37. São quase 10 anos de aventura. Começámos com um negócio de venda online de cabazes de Natal – a Cabazes.pt -, depois lançamos uma loja de vinho – a Vinha; ambos ainda existem e com sucesso. Mais tarde lançámos o Alfredo, uma plataforma de entrega de refeições, muito antes de haver uma UberEats ou uma Glovo. Acabou por não correr muito bem, porque percebemos que para garantir a logística que um negócio destes exige era necessário muito dinheiro. Tudo isto acabou por dar origem a um grande know-how e foi isso que nos permitiu fundar o Mercadão.

 

O que é que motivou a criação do Mercadão?

As entregas dos supermercados eram muito pouco rentáveis. Com o Mercadão, quisemos que o negócio de entrega de supermercado começasse a dar dinheiro. Assim foi. Depois de muito trabalho, e sempre em paralelo com outros negócios, conseguimos dar um passo determinante que foi ter o Pingo Doce como parceiro, um supermercado líder no país e que ainda não tinha loja online. Foram anos muito intensos e agitados. Só com muita dedicação e empenho é que conseguimos estabelecer com força a marca Mercadão no mercado e fazer com que o negócio fosse verdadeiramente apelativo e que até tivesse interesse para outras marcas e players. Há dois anos fomos contactados pela Glovo com o objetivo de comprar o Mercadão e acabou por se concretizar.

 

Planos para o futuro?

Os últimos dez anos foram de muito trabalho, muitas noites sem dormir, muita dedicação e exigência. No seguimento da venda à Glovo, o meu ciclo no Mercadão está agora a terminar e vou aproveitar para fazer algumas coisas que acabei por deixar para trás. Decidi que os próximos tempos vão ser de paragem, reflexão e dedicação a outras coisas extra trabalho. Quero para passar mais tempo com a minha mulher e o meu filho e saborear as coisas triviais do dia-a-dia, que me dão um enorme prazer. Tenho, também, uma data de sonhos guardados na gaveta que quero concretizar: viajar mais, fazer voluntariado ou aventurar-me nuns saltos de paraquedas e nuns voos de experiência.

 

Mas para um empreendedor, nunca é fácil desligar-se completamente, pois não?

De todo. Mas vou forçar-me a conseguir desligar o mais possível. Vamos ver quanto tempo é que consigo aguentar (risos). Mas tenho a certeza que, brevemente, estarei já a pensar em alguma coisa que me vai voltar a tirar o sono!

 

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04-05-2023