Rita Alves: “A Enfermagem é um privilégio”

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Rita Alves tem 27 anos, é natural de Paços de Ferreira e estudante do Mestrado em Enfermagem da Escola do Porto, da Universidade Católica. Atualmente, trabalha no Hospital de São João, no serviço de Pediatria, que confessa ser “fascinante”. Para si, a Enfermagem é um “privilégio”, porque permite “trabalhar com a cabeça e com o coração”. Já trabalhou em Odemira, Cascais e Lisboa, mas confessa que é no Norte que se sente verdadeiramente em casa.

 

O que é que a fascina na Enfermagem?

A Enfermagem distingue-se de qualquer outra profissão porque tem o privilégio de trabalhar com a cabeça e com o coração. Nós só conseguimos ser, verdadeiramente, bons profissionais quando a farda que usamos nos faz sentido. É esta entrega que nos faz cuidar do outro. António Damásio tem uma frase que se relaciona com esta entrega e com a qual muito me identifico. Diz assim: “Não somos máquinas de pensar que sentem, mas sim máquinas de sentir que pensam!”

 

“Os valores da Católica estão refletidos na forma como se ensina e se educa.”

 

É licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem do Porto. Em 2018, quando termina o curso, ingressa no mercado de trabalho.

Quando terminei a licenciatura, soube que queria ir trabalhar antes de fazer um mestrado. Queria arranjar trabalho, preferencialmente, no Norte, mas acabei por rumar ao Alentejo. Fiquei colocada numa Unidade de Cuidados Continuados, em Odemira. Eu nunca tinha ido sequer ao Alentejo (risos), mudar-me para lá foi uma aventura. Estive lá cinco meses e depois fui para o Hospital de Cascais, onde estive, meio ano, num serviço de Medicina Interna. Gostei muito mais deste serviço e foi nesta altura que os desafios da Enfermagem começaram a corresponder muito mais àquilo que eu procurava. Posteriormente, acabou por surgir outra oportunidade, desta vez no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, onde estive no Bloco Operatório Central mais de um ano.

 

Até que conseguiu regressar ao Norte …

Sim, era o que eu mais queria, embora reconheça que a diversidade de experiências que tive no Sul tenha sido determinante para o meu desenvolvimento profissional. Mas, claro, que não escondo a felicidade de poder estar mais perto da família (risos). É engraçado, porque fui chamada para o Hospital de São João, porque em 2018, quando andava à procura de trabalho, tinha enviado a minha candidatura para um concurso público que na altura tinha aberto. Passados dois anos contactam-me. Nada acontece por acaso!

 

“No Norte somos implacáveis naquilo que fazemos.”

 

É quando regressa ao Porto que decide fazer o mestrado. Porquê escolher o Mestrado em Enfermagem da Universidade Católica no Porto?

Em primeiro lugar, não são todas as universidades que permitem tirar a especialidade e o mestrado em simultâneo. O mestrado da Católica congrega essas duas funções, o que representa uma mais valia significativa. Para além disto, conheço muitas pessoas que frequentaram a Católica no Porto e que gostaram imenso. O mestrado que frequento está na sua 15ª edição, o que significa que a Católica forma enfermeiros especialistas há 15 anos. É inegável o seu valor.

 

Porque é que o Norte é especial?

Porque, para além de ter cá a minha família (risos), somos implacáveis naquilo que fazemos. Não nos conformamos, não desanimamos, somos exigentes.

 

O que é que mais a tem marcado ao longo do seu percurso na Católica?

A proximidade com os professores e o grande esforço que fazem por se adaptarem à loucura do nosso dia-a-dia por turnos, porque somos praticamente todos trabalhadores estudantes. É frequente haver alguém que não pode por causa do seu turno no hospital e há sempre uma resposta positiva e compreensiva. Tem-me marcado, também, o facto da Católica se pautar por determinados valores com os quais tanto me identifico e esses valores estão refletidos na forma como se ensina e se educa e, também, na forma como as pessoas se relacionam umas com as outras. Tenho feito um percurso muito positivo e muito construtivo na Católica. Sinto-me desafiada e valorizada.

 

“Basta a nossa presença para confortar e para cuidar dos outros.”

 

Porquê escolher a especialidade em Saúde Infantil e Pediátrica?

Até vir trabalhar para o Hospital de São João nunca tinha trabalhado com crianças. Quando fui colocada neste serviço senti-me meio deslocada e com muito medo do desconhecido. Mas não é que acabei por nunca mais sair daqui? Não sei se fui eu que gostei da Pediatria ou se foi a Pediatria a gostar de mim (risos). A Pediatria é fascinante.

 

E desafiante?

Muito! A Pediatria tem muito que se lhe diga. Em tempos, sem conhecimento algum de causa, cheguei a julgar que trabalhar com crianças era fácil. Bastava fazer umas brincadeiras e administrar a medicação. Não podia estar mais enganada. É muito complexo! O nosso cuidado não é em exclusivo com a criança que precisa de cuidados, mas há, também, uma família que é preciso ter em conta. Temos de saber acolher, apoiar, trazer tranquilidade. As crianças dão-nos grandes lições de vida! Já não me imagino a trabalhar sem ser em Pediatria.

 

Há algum episódio que a tenha marcado de forma especial durante o seu percurso profissional?

Há algum tempo passou pelo meu serviço um recém-nascido com poucos meses, sendo que só um ou dois meses foram passados em casa. A situação era mesmo muito crítica. Há um dia em que decido ir visitar essa criança e a sua mãe que estava com ele ao lado. Quando lá cheguei a única coisa que fui capaz de fazer foi abraçar a mãe. O bebé acabou por falecer uns dias depois. Passado algum tempo, a mãe da criança pediu para falar comigo. Veio agradecer-me aquele abraço e o ter estado presente. Segundo as suas palavras, “vim agradecer-lhe por ter estado presente naquele momento de dor.” Nunca me vou esquecer disto. É a prova de que, às vezes, basta o nosso silêncio e a nossa presença para confortar e para cuidar dos outros.

 

“Move-me a vontade de querer fazer mais e melhor.”

 

O que é que gosta de fazer nos tempos livres?

Passar tempo com a minha família é sempre um tempo ganho! Para além disso, gosto de caminhar! Caminhar sem destino, pela natureza, em liberdade. Sou muito ligada à terra. Há quem precise de ir ver o mar para tomar algumas decisões, eu preciso de ir à terra. É lá que estão as minhas raízes e é lá que recarrego energias e que me encontro comigo mesma.

 

O que é que a move?

Move-me a vontade de querer fazer mais e melhor. Move-me o cuidar. Quero que a minha família se orgulhe de mim e quero ser capaz de ser significativa só com a minha presença, tal como o consegui quando, com um simples abraço, cuidei daquela mãe.

 

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19-01-2023